VÓVIZINHA
Bee Scott
 
 

Não conheci minhas avós... Eu tenho um vizinho que tem uma avó linda! Cabelos brancos. Ela sempre diz: "Querida adorar é só a Deus" - eu tenho essa mania de falar "te adoro, fulano". Quando vou lá na casa da vóvizinha, adoro passar a mão em seu cabelo de algodão branquinho, brilhante! Em uma das tardes em que fui visitá-la, estava sentada em uma poltrona, antiga, forrada com gobelem, de flores claras, daquelas que a gente se afunda. Deu-me vontade de sentar no chão, coloquei a cabeça em seu colo. Ela perguntou pela terceira vez, em que rua eu morava, eu disse: "Aqui, bem aqui do lado da sua casa" - e apontei. Ela me respondeu: "AH! Então não é motivo para você não vir aqui todos os dias". Bem que eu queria! Quem me dera tê-la, todos os dias em minha vida também.

Conheci somente minha Bisavó por parte de pai. Eu era bem criança, lembro-me que ela morava em um casarão daqueles antigos cheios de quartos e salas, tapetes e pratarias, eu aparecia lá sempre quando voltava da escola, que ficava na rua ao lado. Lembro me dela deitada em uma cama, eu nem atinava que ela estava doente.

A Bisa, tinha uma boneca de louça, um bebê perfeito, lindo! Sempre que eu aparecia, ela me deixava brincar com ela.

Sabe que eu não sei, se eu ia lá, por causa da boneca? Queria lembrar, e ver que não era por isso, mas crianças têm estas coisas, adoram quem tem objetos brilhantes, coloridos, bonecas, e que as deixem brincar. Acho que elas não sabem que amam a pessoa, a dona das coisas, não sabem distinguir ainda sentimentos de interesses, boa época esta!

Pena que crescemos e, ficamos sabendo desta diferença, é tão gostoso gostar!

Estava vendo aquele filme "Espelho tem Duas Faces", a hora que a professora pergunta aos alunos: "porque é bom se apaixonar?" e eles respondem:"pela procriação e perpetuação da espécie?" Queriam dar respostas inteligentes, pois, a professora era excelente e culta. E ela responde: "porque é bom pra cacete enquanto dura este momento!" No fundo, todos sentem isso, o sentimento puro e simples.

Bem, o fato é minha bisa querida morreu, dos trinta e seis bisnetos que tinha, deixou a boneca para eu cuidar. Lembro-me até hoje dos meus olhos fixados na boneca, a tristeza pela morte, mas a certeza de que eu fazia a diferença na vida dela. Meus pais achavam que era uma boneca muito importante, cara, e não deixavam eu brincar com ela. Eu tinha muitas outras bonecas na época e, meus pais tiveram a maldita idéia de colocar a boneca de porcelana dentro de uma fronha para guardar no armário de roupas de cama. Um dia, meu pai foi puxar um travesseiro e puxou a fronha errada. A boneca de louça da bisa quebrou-se, algo em mim também quebrou-se, ainda não sei o que.