O vento corria menos que ele neste dia, o tempo parado fazia com que tudo transitasse lentamente por seus olhos, ou seria o pensamento rápido demais para um mundo tão lento?

A cada novo passo a respiração ofegante lembrava-lhe que era capaz de cansar, mas não sentia cansaço, não sentia vontade de parar, só queria continuar mais rápido, mais forte, mais distante de tudo o que agora sufocava seu mundo.

Mas não era a distância física que o angustiava, era a proximidade das paredes que não poderia transpor, fechando-se, cercando, sufocando, pressionando por uma resposta, exigindo uma mudança dentro da hora mais imprópria, foi pego de surpresa por mais prevenido que se considerasse. Essa pressão psicológica que transpunha o limite entre as idéias e as ações.

Entre tropeços continuava correndo pelas ruas da noite, só o frio lembrava-lhe que não estava sonhando, só a dor impedia-lhe de fechar os olhos, continuava correndo, continuava querendo fugir do abismo que se fechava ao seu redor, quisera voar...

De repente o silêncio foi encontrando espaço entre sua respiração ofegante e os passos que diminuiam, começou a caminhar, deixar-se entregar. Naquela noite queria o Sol, naquele frio queria o calor, naquela prisão queria liberdade, na sua dúvida urgia por respostas.

Olhando ao redor não reconhecia ruas ou sinais, línguas ou direções, estava perdido e não conseguia se encontrar, estava sozinho e não conseguia gritar, estava cada vez mais pesado... Cada vez mais suas forças se recusavam a continuar, já não era tão somente paredes e abismos, eram correntes. Não podia fugir de si mesmo.

Sem forças no meio da estrada rendeu-se ao cansaço e se pôs da única maneira que seu corpo permitia. Ajoelhou-se. Nas lembranças que evocou seguiu seu impulso e fez a única coisa que conseguia. Uniu as mãos. E pronunciou as únicas palavras que conseguia. Rezou.