MUDANÇAS SÃO SEMPRE BEM VINDAS, MAS POUCOS ENXERGAM
Ubirajara Varela
 
 

Há muito tempo que deixei de ser o filhinho das titias. O carinho acredito que ainda continua o mesmo. Mas aquelas histórias de favorecimentos mil, presentes, língua-de-gato, balinhas e agrados são coisas da mais tenra infância. Mesmo que alguns insistentemente teimem em dizer o contrário por desconhecimento da atual realidade. Só tenho a fama. E nada de deitar na cama. Nada mesmo.

Aliás, tenho notado que as pessoas, por estarem afastadas de mim faz muitos anos, principalmente os familiares e alguns amigos destes, acham que eu sou a mesma criança quase hiperativa que já fui. Engano. Hoje há pessoas dizendo que sou apático. Que vivo num mar-de-rosas. Um vagabundo desperdiçado. Falo isso só para defender a minha tese de que os conceitos mudam. E quando não mudam, assumem outras palavras.

Mais exemplos: antes eu detestava pequi, hoje adoro. Não gostava de pimentão. Não podia nem ver sua verdura, que o gosto horroroso já sentia na boca. Agora não abro mão de uma boa porção. Seja verde, vermelho, amarelo. As coisas mudam. As pessoas mudam. Mas a fama continua a mesma. Até a poupança bamerindus já não existe mais. O que acontece? As mudanças acontecem, são bem-vindas e poucos as enxergam. Isto é um sinal: as pessoas parecem estar imersas em sono profundo. Sabe aquela história que diz que "fulano está no mundo da lua". Para mim é assim! Na lua, ou dentro de uma caverna, é a mesma coisa. A maioria das pessoas que conheço parou no tempo, não viu que o rio já não é mais o mesmo. Nem tampouco o seu banhista. Já dizia Platão.