CRÔNICA NÚMERO 22
Osvaldo Pastorelli
 
 

As manhãs sempre me pegam desprevenido, pois tenho de remendar os retalhos, reforçar os alinhavos do dia anterior, acrescentar outros, nunca tirar.

É proveitoso útil e massificante pela necessidade de escolher os retalhos por tamanho respeitando a geometria dos desenhos, dos padrões, das cores, do grau de sensibilidade, do sentimento a influir ao proporcionar padrão de beleza quase suave, cálido, sem ofender os incultos, os que não compreendem as entre linhas da vida.

Tingir os retalhos em caldo brando de lucidez, diluir a solidão numa criação de beleza extrema para se ver e sentir.

É preciso cuidado, não quebrar o espelho da concordância refletido no espelho da razão.

Não deixar a roupa gélida da solidão que, se sonhava não sentir, te envolver completamente por muito tempo.

É preciso deixar-se deitar na fantasia brilhosa do sol de todos os dias sem quebrar a distância enorme que possa daí surgir.

(Crônica inspirada no poema "trapos", do poeta Adair Carvalhais, postado na lista na Quarta-feira, 06.10.99, às 00:18)