VINHO
DO PORTO
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João
Rodrigues
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Ela me deu de bandeja um sorriso. Um sorriso agradável, olhar atento, cabelos penteados, brilhantes, acho que tinham gel. Me olhava com um jeito... Pedi uma taça de vinho branco. Ela sugeriu um vinho do porto. Aceitei. O salão lotado. Cheiro de perfumes franceses e fumaça de "havanas" se misturavam. Já passava das três da manhã e a conta de quantas taças eu havia tomado já tinha esquecido. O silêncio era o som do salão. Fiquei olhando aquela morena com toda sua beleza escondida dentro de seu uniforme de garçonete. Até que era interessante ficar imaginando ela se despir pouco a pouco: primeiro os sapatos e meias, em seguida a gravata, depois o colete, a blusa... ela estava quase toda nua em minha frente; apenas suas roupas íntimas ainda teimavam em ficar. Também não tive pressa, era bom ir devagar, ficava mais quente, mais real. Meu devaneio foi interrompido por uma voz suave quase ao meu ouvido: "O senhor gostaria de mais alguma coisa?" Virei-me abruptamente. Realmente eu estava viajando. Ela, quase nua, praticamente em meus braços e agora ali, ao meu lado, completamente vestida. Vi que uma distância enorme nos separava: a realidade. Senti vontade de chorar. Droga! Eu estava tão bem no meu maravilhoso mundo de fantasias... "E se eu disser que sim?", respondi. "Estou aqui para servi-lo, senhor", respondeu numa voz macia, tanto quanto o meu delicioso vinho de sobremesa. Fingi que não havia percebido que eu era o único cliente que ainda restava no salão. Apenas ela restava para fechar o restaurante. "O que me sugere?", perguntei cinicamente. Pude ver fogo em seus olhos; seus lábios tremiam. Em seu rosto vi o desejo de uma mulher que estava pedindo para ser amada, amada como uma mulher deveria ser sempre, com muito desejo, paixão; não amor, paixão mesmo, com volúpia. Sexo, no sentido mais literal. Ela me arrastou pela mão em direção ao andar superior. O frio da adega foi abafado com um beijo quente e o aroma de vinho do porto encorpado exalava de sua boca de lábios aveludados. Arranquei sua gravata, blusa, e o resto não foi preciso, ela mesma tirou. Outra garrafa foi aberta. O paraíso, enfim. Baco. Eu era Baco. Aquela ninfa disfarçada de garçonete justificou o meu desejo de adorar vinhos. |