QUANDO A DISTÂNCIA FAZ BEM
Angela Viana
 
 

Quando Yumi foi para o Japão, Lucas prometeu que a esperaria, não pôde acompanhá-la porque os pais de ambos não permitiram (eram contra o namoro deles) e achavam que a enorme distância iria separá-los definitivamente. Como tinham apenas 16 anos, tiveram que obedecer, mas prometeram um ao outro que assim que fossem maiores de idade, ficariam juntos novamente e dessa vez para sempre.

Ela foi morar com a irmã mais velha e jamais imaginou que os sobrinhos, que até então não conhecia, fossem tão levados, dois meninos terríveis, que não lhe davam um minuto de paz. Sempre que podia, ligava para o namorado, mas por mais que tentasse, não conseguia falar nem dois minutos com ele, porque inevitavelmente um dos garotos aparecia e atrapalhava a conversa.

Lucas por sua vez, também não tinha possibilidades de falar com Yumi porque o pai havia bloqueado o telefone para ligações internacionais e cortado sua mesada propositalmente, a fim de que o jovem não tivesse condições de adquirir cartões telefônicos DDI. Devo informar que naquela época ainda não existiam telefones celulares em nenhum dos dois países, contudo, passaram a se comunicar por carta e no caso deles isso funcionou maravilhosamente bem.

Dois anos depois, Yumi decidiu voltar, Lucas ficou muito feliz e mal pôde conter a ansiedade na expectativa do reencontro, o mesmo se passou com ela, que deu graças à Deus quando se despediu da irmã e dos dois sobrinhos no aeroporto de Tókio e para desgosto dos pais, que não queriam que ela voltasse, desembarcou no Brasil radiante por se ver livre do rigoroso inverno nipônico.

Se encontraram no mesmo dia da chegada dela, assim que se viram livres dos olhares dos pais, foram até o lugar combinado e chegaram na mesma hora. Ambos estavam emocionados, com o coração disparado, abraçaram-se e se beijaram como antes, mas não conseguiram conversar muito. Tanto Yumi quanto Lucas, pensaram que a falta de assunto era devido ao cansaço dela e à emoção do momento, mas o silêncio persistiu entre eles nos encontros seguintes.

Aborrecido, Lucas conversou com um velho amigo de seu pai sobre o assunto e o homem sabiamente disse:

- Os grandes amores não são como as grandes amizades, que não se abalam com a distância, meu rapaz.

Lucas achou que o amigo do pai tinha falado aquilo a mando dele, que ainda era contra o namoro e não deu importância, continuou encontrando Yumi, mas percebia que ela também se sentia tão constrangida quanto ele, quando o silêncio surgia e ficavam sem saber o que fazer.

Foi então que decidiram se separar, apesar de não quererem fazer a vontade dos pais, mas achavam que aquela situação era realmente insustentável e tocaram suas vidas, cada um tomando um rumo diferente. Ela passou no Vestibular e começou a fazer Medicina e ele foi para Brasília, após engravidar a filha de um coronel do exército e ser obrigado a se casar com a moça.

Muitos anos depois, se encontraram casualmente, ele tinha se divorciado recentemente e ela ainda estava solteira por opção, achava que não tinha paciência com homem nenhum e se sentia feliz com sua independência. Yumi estava participando de um congresso na capital federal e Lucas fazia parte da equipe de segurança do evento, foi ela quem o reconheceu primeiro e ficou surpresa, jamais voltou a pensar nele e nunca imaginou que o encontraria naquele lugar.

No último dia do congresso, ela decidiu falar com ele, estava curiosa para saber o motivo que o levou a se mudar para Brasília. Lucas não a reconheceu no primeiro momento, porque também nunca mais tinha voltado a pensar nela, mas conversaram animadamente e por incrível que pareça, se apaixonaram novamente e voltaram a namorar depois de tantos anos. Porém, cada um continuou na sua cidade e até hoje nem pensam em se casar, descobriram que a distância no caso deles é o segredo para manter o relacionamento.