DE MÁSCARAS E SOMBRAS
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Tatiana Alves
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O
sol brilhava alto quando ela chegou à velha casa onde havia sido
criada. Passeou pelos jardins, algo que não fazia na cidade onde
agora morava. De fato, sentia-se mais forte essa manhã, a despeito
da anemia diagnosticada pelo médico. A ida à antiga casa
da família, sempre adiada, surgiu de modo quase compulsório,
já que os ares do campo seriam benéficos à sua
recuperação. Suas pupilas contraíam-se em virtude
da claridade inesperada para aquela época do ano, como se o brilho
da manhã pudesse incomodar. Arrancou uma rosa do pé, e
sorveu prazerosamente seu perfume, enquanto pensava se ele viria ou
não visitá-la. Pousou a mala no banco da varanda, afastou
os jornais e olhou em volta, reconhecendo o lugar, ao mesmo tempo tão
familiar e diferente, agora que o via com a perspectiva da mulher. Subitamente,
arrepiou-se. Aquilo urrava novamente no porão. Ainda que não
tivesse passado de um grito abafado, como uma foto que esmaece com o
passar do tempo, conservava o mesmo poder de sempre, de aterrorizá-la
como se não houvesse saída. O desespero apossou-se novamente
dela. Encolheu-se como a garotinha que anos antes jurara nunca mais
pôr os pés naquela casa. Mas, nem que fosse para vendê-la
posteriormente, ao menos uma visita fazia-se necessária. Como
um avaliador que olha friamente, vislumbrando os vinténs de sua
comissão por detrás dos jardins que habitam a tela, inspecionou
os quadros, que talvez valessem mais do que a propriedade em si, imaginando
o que faria quando se livrasse deles. Mas o preço a pagar era
alto, ela sabia-o bem, pois os anos de insônia não lhe
seriam ressarcidos jamais. Tapando os ouvidos, como se com isso pudesse
abafar não apenas os gritos, mas as lembranças, caminhou
em direção à casa. |