A
MOÇA DO RESTAURANTE
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Heringer
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Eu gostava de almoçar ali. Ia sempre que podia pelo tempo em que trabalhei num jornal que ficava por perto. O ambiente do restaurante era agradável; a comida boa e tudo o mais cheirava a limpo e bem cuidado; e não era caro. Mas foi a primeira vez que a vi; eu estava à mesa e ela sentada, junto ao balcão. Comia um sanduíche e parecia ter pressa. Sua aparência deixou-me atento e excitado. Era morena, de cabelos escuros e longos, e a pele suave se destacava num vestido preto, um pouco curto, mas só um pouco, e que deixava entrever as coxas lisas e roliças. Ah, e tinha sardas! Eu sempre fui apaixonado por mulheres com sardas; elas, eu nunca soube a razão, são geralmente tímidas e recatadas, como eu - e tão belas! Lembro-me de uma ainda na primeira escola - minha paixão de estréia - que me fulminava, furiosa, sempre que percebia o meu olhar insistente, então eu disfarçava e fingia procurar outros alvos. Agora, a moça do restaurante me fazia querer convidá-la a sentar-se comigo; pedir-lhe que não tivesse tanta pressa e que nunca se fosse. Devo até ter me remexido no lugar onde estava, com ímpetos de ir até ela, mas eu nunca seria capaz de tal proeza. Sou tímido e introvertido; as poucas pessoas que me conhecem e ainda falam comigo dizem que sou muito sério e fechado. Assim, tentei um método nada convencional que eu havia visto há muito tempo num programa de televisão. Nele, um homem novo, um estrangeiro, cujo nome já não me recordo, fazia coisas acontecerem com o simples ato de mentalizar; e entortava talheres e outros metais; e dizia enviar e captar mensagens. Concentrei-me. Queria por todos os deuses do mundo que ela se virasse, e se apercebesse da intensa emoção que me acometia. Devo ter fechado os olhos e, por certo, até esforcei-me bastante por alguns instantes; abri-os vagarosamente, e frustrado, pude ver a inutilidade do meu ato ridículo e bobo; e o meu fracasso evidente. Ela, já de pé, se encaminhara para o caixa onde uma pequena fila se amontoava. Distraído, mal percebi a presença do garçom que, impaciente, me indagou sobre o que eu iria beber. - Água mineral, disse-lhe, sem conseguir tirar os olhos da moça. Então ele quis saber se era natural ou gasosa. - Natural - eu falei, automaticamente, sem mesmo olhá-lo. Agora, ela saía apressada à calçada. Acompanhei-lhe os movimentos belos e sensuais, através dos vidros muito amplos e limpos da loja, e vi ainda quando atravessou a rua com os passos ligeiros e perdeu-se na multidão. O garçom trouxe-me de volta à crua realidade do meu mundo tacanho e infeliz, ao fazer alguns ruídos, dispondo à mesa uma garrafa de água mineral, natural, e desagradavelmente fria! |