O CASTELO
Gustavo Colombini
 
 

Sinto-me como estivesse preso. As palavras engasgadas ainda me prendem nesse mundo. São correntes metalinas, pesadas, maciças e invisíveis. Do indescritível som que ouço agora, tiro conclusões: talvez companhia; alguma pequena criatura medindo forças nos limites de meu castelo. Castelo construído por mim: cada parte manualmente. Porém ainda tenho medo. Não respiro mais o mesmo ar. E o silêncio que buscava, encontrei aqui. Contudo, sinto medo. Medo, medo. Mas sei que aqui é seguro.

Enquanto perco-me no barulho, lembro de meu assíduo trabalho por aqui. Cada tijolo encaixado por meus sonhos. Ah! A praça central, tratada como Olimpo. Cavada com exação. Batizada pelo sangue de minha fronte (que me indicava sempre a solidificação das rochas). A camada de placas emoldurando este aposento. Sinto-me orgulhoso: é uma construção perfeita! E sei, no entanto, dos perigos e da inveja. Já vivi afora. Medos que me afligem! Torturam e assolam minhas companhias! Banham de dor meus mais belos sonhos! E quando isso acontece, durmo.

Sonho com algum lugar incomum. Vejo flores e nuvens. Sinto em minha epiderme a liberdade que me suja - encurralado por minhas próprias privações. Sonho com você e me sinto preso. Queria poder ter falado tudo, antes que me tornasse o que sou agora. A sombra e o acaso. Mas tenho amor! Amor! Sim! Coisa que nenhuma criaturazinha por aqui demonstrou ter! Ainda sou igual a eles. Em cada gota de sangue, ainda deixo meu DNA emblemático. Serei estudado, sei. E tenho medo de descobertas. Mas um dia terei que sair. E esse dia não é mais além.

Luz, luz, luz! Tratá-la-ei com indiferença? Como? A cobertura fina que me separa da saída é frágil. O que me prende, de verdade, são as correntes. Elas me machucam quando tento me agitar. O suor salgado enfurece meus olhos. A terra revirada é macia. Cada parte foi desenhada com intuitiva objetividade. Se houvesse invasão, a saída seria rápida. Tudo isso construído por minha insegurança. Não sei até que ponto ela me dará base. Tempo e paciência. Fecho os olhos. E sonho com a luz. Tenho medo de abrir novamente os olhos.