CAMINHO DA INDEPENDÊNCIA
Bruno Pinheiro de Lacerda
 
 

Para todos os que podem ver com os olhos, certamente isso seria algo corriqueiro; para mim, era algo novo, amedrontador, mas extremamente necessário. Dar o primeiro passo, realmente sozinho, sem os olhares de ninguém era desafiador. Entretanto, seria o primeiro passo para a independência.

E foi com todos esses pensamentos, com todos os meus medos, com todas as minhas incertezas, mas com muita vontade, dedicação e apoio familiar, que saí, sozinho, naquele começo de manhã. Eu saí sozinho... Sozinho! Aquilo era uma coisa muito boa, mas, ao mesmo tempo, assustadora.

Saí do quintal de casa, fechei o portão: agora não tinha mais volta. Dei as costas para o portão, virei à esquerda e segui em frente. Eu havia treinado, com alguém, todo o caminho. Mesmo assim a idéia de estar sozinho me assustava um pouco. Dobrei a esquina, continuei reto e virei novamente à esquerda: cheguei ao ponto de ônibus. Entrei no veículo e sentei. Aquele era o Ponto Final e o ônibus estava parado. Eu devia pedir ao motorista que me avisasse quando chegasse no ponto em que eu iria descer. Ah, ele seria um bom motorista?

O Motorista entrou no ônibus; eu o chamei e disse-lhe onde queria descer, pedindo-o para que me avisasse quando chegasse lá.

Ah, sim, ele era um excelente motorista! Um dos melhores - se não o melhor - que já conheci. Com ele, caminhei um ano inteiro, até alcançar meu maior sonho; com ele, o caminho foi muito melhor!

O ônibus partiu: meu medo aumentou. Depois, o medo se transformou em ansiedade, a qual se transformou em aflição. O ônibus caminhava, naturalmente; as pessoas conversavam, naturalmente; o tempo passava, naturalmente; só eu, ali, não era natural, nem agia naturalmente. Por quê? Será que eu não sabia que tudo era natural, inclusive meus medos e a minha insegurança? É, acho que eu não sabia! O ônibus passou o viaduto e seguiu, rapidamente chegou à Avenida João César de Oliveira. O veículo, então, parou no primeiro ponto da avenida: muitos desceram, muitos subiram, e eu ali, sentado, incrivelmente preocupado. O Motorista se lembraria? E se não se lembrasse? A lotação arrancou; aliás, deslizou pelo asfalto, porque o Motorista dirigia com uma calma sensacional! Logo chegaria minha hora. O segundo ponto passou, bem como o terceiro.

Minha hora chegou e eu, naturalmente, fui avisado. Desci, completei o caminho até o Pitágoras e tudo correu bem.

E eu aprendi uma lição: tudo é natural, natural demais para que nós nos preocupemos em demasia. Naturalmente, eu me adaptei a uma nova vida e alcancei meu grande sonho: uma vaga na UFMG. Acho que sempre vou começar uma nova vida, para alcançar sempre grandes sonhos!