O MAIOR INIMIGO DE UMA JOVEM
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Bárbara Helena
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Olhei para o armário vazio. Sobre a cama, uma confusão de vestidos, calças, blusas, tops, bustiês e batas se amontoavam. Eu continuava indecisa. Experimentei mais três combinações diferentes das mesmas roupas e continuei infeliz como antes. O espelho se recusava a me ajudar. Nada me fazia parecer magra e bonito como desejaria. O celular tocou pela sétima vez. - Estou quase pronta. Ta bom, eu sei que já disse isto antes há meia hora atrás, mas agora é verdade. Tudo bem, dez minutinhos. Voltei ao exercício anterior de fingir que eu não era eu com resultados cada vez piores. Finalmente, afoguei o celular, dispensei as amigas e combinei que iria encontra-las mais tarde, sozinha. Jurei que não faltaria, invoquei todos os deuses e me deixaram em paz. Fechei os olhos, escolhi um vestido ao acaso , me enfiei nele sem olhar o resultado. Levei mais umas três horas para a maquiagem e, parecendo uma árvore de Natal fora de época, liguei para o radio taxi. Na saída, não resisti e dei uma última olhada no espelho. Apenas para verificar que um olho estava menor que o outro e o nariz cintilava sob a base. Pelo menos o batom era bonito e destacava os dentes. Ou não? Fechei os olhos, me arranquei da imagem e desci o elevador de óculos escuros para espanto do vizinho do terceiro andar. - Conjuntivite - expliquei com voz rouca. Ele sorriu solidário. - Chato, né? - Chatíssimo. Entrei no taxi, repetindo o mantra: "Estou ótima, linda, não sou gorda, é tudo invenção da minha mente paranóica" Não sei porque funcionava melhor na terapeuta existencial. Ali, no escuro do taxi, soava falso e meio ridículo. O homem me olhou através do espelho e estiquei o pescoço para tentar me ver ao lado dele. Não consegui, mas ele pareceu algo preocupado comigo. Principalmente porque perguntou: - A senhora está bem? - Senhorita! - Ahn? - Não sou casada. Ainda. - Ah, desculpe - ele riu, mas eu não achei graça. Tirei os óculos e peguei o espelhinho da bolsa. O olho continuava menor. Droga. Atravessamos a Avenida Litorânea, o carro entrou na rua da discoteca e comecei a sentir frio. - Pode desligar o ar, por favor? Agora vou suar e o nariz vai ficar mais brilhante. Não deu outra. Consultei o espelho pela última vez quando parou diante da porta. Vários rapazes esperavam para me ver descer horrorosa, o olho desalinhado, um vestido que me deixava baleia e nariz de farol. Em compensação, mulheres deslumbrantes faziam fila para me humilhar. Antes que o maldito chofer abrisse a porta, recoloquei os óculos escuros e ordenei. - Vamos seguir. - A senhora, quer dizer, a senhorita, não vai saltar? - Nunca! Desisti. Pode dar a volta e me deixar na praia. Ele me olhou espantado mas obedeceu. Saltei, sentei num quiosque e pedi uma cerveja. Depois de umas quatro latas o olho alinhou pela esquerda, o nariz voltou ao normal e o vestido parou de apertar. - Linda. Você me disse por trás do espelho. Eu concordei, finalmente. Nada como um homem de bom gosto para terminar uma noite infeliz. |