A ÚLTIMA REFEIÇÃO DE UM CONDENADO
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Zeca São Bernardo
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Gino sentou-se num banco qualquer da Praça de São Pedro...poderia tomar qualquer um de assento, mas preferiu o que dava bem de frente para a antiga janela. Donde o Papa realizava as bênçãos há muito, muito tempo atrás! Limpou a boca na manga da camisa velha, o sangue ainda pingava de seus caninos. Banqueteara-se com o último de sua espécie e deixara a carcaça do velho vampiro caída a seus pés. Quem diria que tudo acabaria assim?- pensou, enquanto contemplava tristemente a linha do horizonte. Logo o sol nasceria e pela primeira vez em milênios Gino não furtaria-se do prazer de vê-lo nascer. Um erro estúpido provocara uma última guerra ainda mais estúpida, a detonação de inúmeros artefatos quase que simultaneamente destruíra boa parte da vida na terra. Longos dez anos de inverno nuclear tornaram a busca por alimento um jogo mortal para os poucos sobreviventes que tentavam ausentar-se de seus parcos abrigos. Fora deles que Gino e os de sua espécie alimentara-se. Agora, estava tudo acabado! Findo o último homem, cercado como gado, disputado como caça nobre por centena de caçadores ávidos por seu sangue, os vampiros começaram a devorar-se uns aos outros. Como forma de preservar as espécies que tentavam sobreviver as novas condições da Terra. Outro equivoco, em pouco tempo as raças que desenvolveram-se mostraram-se não adequadas para o consumo e restou-lhes abater seus semelhantes continuamente. Até o último deles perceber que estaria só e desse uma morte rápida e digna, em sua opinião, ao velho conde. Sem solidão, murmurou Gino- vendo os raios de sol que tomavam lentamente a praça, logo encontrariam seus olhos vermelhos. |