PODE ENTRAR
Marcela Santos
 
 

- Boa noite! - ele diz.

É a primeira vez que vem me visitar. Pela primeira vez, na minha casa. Mas fica com aquela cara, perigosamente cativante, olhando pra mim e parado no portão.

Nos conhecemos há anos, mas de repente, numa noite de natal, como um presente do céu, ele resolve abrir seu coração pra mim. E o meu coração, que já estava ansioso e esperando por essa declaração há tanto tempo, quase que sai pela boca. Como resistir a todo aquele charme? A aquele olhar doce e carinhoso? Aquela pele, branca, macia. Um verdadeiro cavalheiro, do tipo que não existe mais. E então ele me fala todas aquelas coisas que toda mulher gosta de ouvir, me faz sentir importante, e naquele momento, eu sou a coisa mais importante do mundo pra ele e ele pra mim. Daquele cavalheiro sedutor. Como o mundo gira.

Uns meses atrás, aquele homem tão atraente era apenas um bom amigo, mas as surpresas que o destino nos reserva faz com que os laços de amizade se estreitem e o sentimento se transforme. E então ele chegou, à noite. Tocou a campainha. Desci as escadas correndo, não queria deixá-lo esperando. E então abri a porta, e lá estava ele, com aquele sorriso sedutor e mortal, parado me olhando, de braços e pernas cruzados, encostado no muro ao lado do portão, e pronto pra fazer mais uma vítima, ou mais uma serva.

- Boa noite! - ele diz.

- Pode entrar, vampiro! - eu respondo sorrindo.

E assim o entrego meu coração e minha vida.

 
 
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