"Durante
as secas do Sertão, o urubu,
De urubu livre, passa a funcionário."
(João Cabral de Melo Neto - o Urubu Mobilizado. Do livro A Educação
Pela Pedra)
Olho
os porcos de meu país...
A minha pátria não me tem.
Tantos segredos sobreviveram no passado!
Este futuro frio que agora morre será pra sempre?
A
minha pátria é um país estrangeiro.
Este calor humano é tão frio em noites de verão!
Quem ama se conforma com o desamor.
A vida tem sido hipócrita.
Neste
recinto hipnótico da contracultura,
Poetas da atualidade se dissolvem
Na avaliação nada sincera
De editores milionários.
Na
mão dos editores, a poesia foi transformada
Em coisa velha... Os mortos, em nós, respiram seus poemas.
E A poesia é tão atual! Não a tempo para a poesia.
O que pensam de nós os editores?
Quando
morrermos, teremos valor?
Muitos escritores ficaram famosos depois que morreram.
Não preciso citar nomes.
As editoras e os editores, de certa forma, são vampiros.
Olho
os porcos de meu país... São todos intelectuais!
Como há cultura na impunidade de meu país!
O que querem os empresários e os políticos?
Quem são realmente os miseráveis e famintos?
O
que querem os editores?
O que querem as editoras?
Olho os porcos de meu país... eles usam gravata.
A vida tem sido hipócrita.
Olho
a realidade de meu país.
Por que estamos ainda no passado?
Será que a minha pátria é um país?
O que será que é um país?
Este
vampirismo intelectual que fica no ar...
O que é a literatura?
O que é o pensar? Pensamos ou não pensamos?
Olho os porcos de meu país... O futuro é o passado.
Todos
os mortos sobreviveram e vivem mais do que nós.
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