OS MORCEGOS DE ESPLANADA
Lisandra Gomes Coelho
 
 

A doce menina vinha brincando, pululante, pelo meio do mato, brincando de pular obstáculos por cima das grossas raízes das árvores milenares, a caçar borboletas da manhã.

Foi numa pisada em falso que se desequilibrou e caiu no chão, de horrível mau jeito, fraturando braço, perna e o quê mais de fundamental houvesse. E lá ficou, doce e calma, tendo no chão o tranqüilo sono da morte.

Era de noite, e já os habitantes das árvores do local se punham em sua revoada cotidiana, como se nada houvesse acontecido.

Quis o destino que dois matutos, acompanhados de duas religiosas moças de família fossem procurar o-quê-fazer naquele lugar, justamente na noite em que jazia sob as árvores Daphne. A presença inesperada daquelas pessoas irritou os morcegos profundamente que, com grande estardalhaço, voaram para bem longe dali. Apenas um restou, dependurado em um dos galhos, para testemunhar a cena que ocorreria.

A visão da garota estatelada e a constatação de dois pequenos furos em seu pescoço incomodou terrivelmente as beatas, que naquela noite não puderam dormir. E foi assim que, na tarde seguinte, o único jornal do lugarejo pôde fazer correr pelo local o impressionante ataque de vampiros na região.

 
 
fale com a autora