FOME INTERROMPIDA
|
Alexandre Ferreira
|
Click! Luz. Cleck! Trevas. Click! Luz. Cleck! Trevas. Dedo polegar ferido no interruptor do abajur de cabeceira, imprimindo força dolorida a luz vinha, relaxando ela ia. Click! Luz. Cleck! Trevas. Uma dúvida atroz me consome as últimas horas. Mato minha fome e vejo o amor morrer? Ou deixo o amor viver enquanto sinto a fome me matar? Click! Luz. Cleck! Trevas. Ela dorme de lado. Um sorriso no canto da boca manchada de batom barato me aquece o coração, mas a fome é bicho feroz e me acua. Estou fraco, minhas pernas vacilam sob o peso do meu corpo cansado. Click! Luz. Cleck! Trevas. No criado mudo um martelo e uma estaca de madeira se fazem convidativos. Talvez morrer fosse o melhor caminho, porém meu pai sempre me dizia: "Suicídio é coisa de viado, homem encara os problemas de frente, meu filho. Matar sim, matar é coisa pra macho. Tem que ser muito homem pra tirar a vida de alguém". Hoje eu entendo que foi um erro ter deixado aquela vadia me transformar nesse monstro. Uma mordida e eu senti minha vida descendo fresca a garganta de alguém. Ela devia ter me matado, mas preferiu me deixar vivo. Foi por isso que quando me dei conta da besta que ela tinha me transformado pela primeira vez eu matei alguém. Não por fome, mas por ódio. Click! Luz. Cleck! Trevas. Os seios parecem que vão saltar decote afora toda vez que ela respira profundamente. Meu Deus, que tesão. Unhas cravadas nas costas, boca molhada, gemidos no ouvido. Deus meu, que fodão. Seria um pecado privar o mundo de um sexo tão gostoso. A pele do pescoço dela é tão fininha, tão cheirosa, tão gostosa que imaginar o gosto ferroso do seu sangue em minha língua enche minha boca d'água. Click! Luz. O sentimento vai falar mais alto. Desde sempre eu sabia que em mim não havia a mínima vocação para ser um assassino, mas matar é preciso, é necessário, eu sinto sede de sangue. Vou caçar na rua. Não posso matá-la, eu a amo e além do mais, se ela morrer quem vai cuidar da minha Mãe? Cleck! Trevas. Com um beijo carinhoso de boa noite molho a testa dela. Dorme com Deus, maninha... |