CLARA
EVIDÊNCIA
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Luísa
Ataíde
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Antes, cumpre esclarecer havia os dias brancos. Mas, o sopro divino sobre dunas de sal ,deixava sobre a soleira da porta, como dúzias de rosas cor de berinjela, os intermináveis dias negros. Cumpre ainda esclarecer que os dias não eram seus, mas do filho mais novo, tal qual equilibrista sob guarda- sol, separava as cordas da bipolaridade. Ora lhe chovia sobre os ombros, Ora os raios lhe queimavam as costas. Quando o sol lhe queimava as costas, o maior de todos os equIlibristas, neste respeitável circo... dançava entre lençóis coloridos. Venham todos ver o maior espetáculo da terra! Flores para a dama ao lado, sorvete e pipoca para todos... Ah!... O grande mistério do Criador. Não há uma lógica aritmética ;sendo assim ,para dois dias brancos poderia haver dezenas de dias escuros, e poderia chegar por pacote expresso, na entrega das dez ,uma caixa de dias brancos,.Detalhe em qualquer dia da semana. Como saber? Segunda -feira , oito horas. Passa pela cozinha; _ Bom dia, você já chegou?, nem notei... Não espera resposta. Passa de volta quarenta minutos depois. _ Bom dia, você já está aí ? Que bom.! A empregada ameaça um sorriso. Meia hora, depois passa de novo pela cozinha. _ Agora que você chegou, isso são horas,? já te falei que segunda-feira você tem que chegar cedo. A empregada inspira fundo , abre os olhos e pàra. A roupa: a saia é verde, a blusa vermelha, o casaco é roxo... E as sandálias... Ora não formam um par... são ... Soa o alarme. A mulher está parada na porta da cozinha e sorri. Sorri de que mesmo? Agora é só a ponte à frente. A ponte é estreita e tem muito limo na parte externa, está sobre rio escuro . Uma mulher com uma saia velha e sandálias trocadas, tem no bolso do casaco um relógio parado, está no meio da ponte e porque chove abre a sombrinha. _Qual o seu nome? _Ela não lembra Doutor. Intervém o marido. _Amanheceu sem memória. _ Algum problema em casa? - O menino... mais novo é bipolar. Ela dormiu no chão da sala, porque ele quis. - Ah... Do lado de cá, a estação de rádio funciona em dialeto primitivo. Não há tempo para ensinar a linguagem dos não mudos, não há tempo para traduções. Três estranhos numa sala branca. Uma mesa, uma cama , dois homens e uma mulher. Uma mulher sem nome, páginas e páginas de livro em branco. _ O nome dela é Clara. Ela tem quarenta e cinco anos. A idade, veneno forte. Mata em dose única.Contra- indicação feminina..Elas não se acostumam. _ As vezes elas não voltam, tive um caso deste mês passado,. ela quis ir, se tentou voltar, não sei, sei que não voltou. _ Ah,... Será que ela quis ir? Não sei ela nunca fala o que sente, é tão distante, contabiliza acordos de paz, sempre mais um e esteja certo,todos os moradores do reino dormirão cedo. Atenção, a escolha é sua,.È só caminhar de volta , bem lentamente e a ponte não mais existe. Se o problema é o escuro da noite, aguarde as primeiras horas, não há luar que dure pra sempre. Não desista. Daqui a pouco vai chegar o padeiro; _ Dona Clara!!! Você tem um nome, e a casa é esta, antes da ponte. O pão está na mesa e o café quente. A empregada ,acredite ,chegou antes das oito e fez o café. Bom dia, sua consulta no dentista é as três. |