AMOR DE PERDIÇÃO
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Patrícia da Fonseca
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Ele era tão bonito que chegava a doer. Quando passava por nosso grupo de amigas, no campus da faculdade, nós todas silenciávamos. Eu, particularmente, sentia minhas pernas ficarem bambas! Meu coração disparava e um suor friozinho me descia pelas costas. As gurias murmuravam, sussurravam e tinham chiliques. Eu agüentava firme, fazendo de conta que ele era apenas mais um naquele campus, quando na verdade eu estava obcecada por aquele moreno de olhos verdes. Até onde sabíamos, ele não tinha namorada. Levamos quase quinze dias para descobrir seu nome. Quem acabou sabendo foi a Vivi. Ela entrou na sala de aula, com meia hora de atraso, sentou perto de nós e sussurrou: - O nome dele é Vanderson. Cruzes, pensei eu. Com tanto nome bonito, ele tinha logo que ser Vanderson. Nada contra os "Vandersons", mas sinceramente, nada a ver. Foi também uma ducha de água fria nas gurias. Algumas fizeram cara de nojo, outras choraram de tanto rir. Eu quase chorei. Nem prestei mais atenção na aula. Apesar de tudo, na hora de ir embora eu já estava conformada com o seu nome e já estava me referindo a ele como Vander, que era bem mais chique. Os dias passavam, sem novidades. O Vander fazia cada vez mais sucesso no campus. Estávamos todas cada dia mais fascinadas. Eu disfarçava do jeito que dava, mas era praticamente impossível resistir a toda aquela tentação. Eu estava fascinada por Vander a cada minuto da minha vida. Fascinação. Foi este o título da poesia que eu fiz para ele e que possuía quase quatro folhas. E minha vida tornou-se isto. Obsessão, fascinação, loucura. Enquanto minhas amigas tentavam chamar a atenção do Vander de todas as formas, eu me mantinha neutra, na certeza de que um dia meu amor valorizaria toda aquela minha discrição. Quando eu comecei a emagrecer e a dormir pouco, descobri que realmente Vander estava governando minha vida. Eu lia e relia "Fascinação" e a cada leitura, eu acrescentava uma frase, um parágrafo. Meu irmão gêmeo reparou o meu jeito distante e sonhador, a comida que eu deixava no prato e minhas andanças pela casa às cinco horas da manhã. Chamou-me na espelunca que era o seu quarto e perguntou-me, a queima-roupa, quem era o cara que estava me deixando daquele jeito. Minha paixão era tanta que eu não podia mais esconder de ninguém. Desabafei tudo para ele. Contei desde o início, minhas atitudes e a das meninas e, por fim, mostrei meu poema que já era um quase um livro de quinze páginas. O Guto escutou todo meu desabafo totalmente calado. Ele sabia de quem eu estava falando. Estudávamos no mesmo campus. O Vander era conhecido por todos, porque além de ser lindo, também era muito popular, algo que eu nunca fôra. Depois que eu fiquei meia hora falando sobre meu amor, Guto olhou bem para meu rosto e revelou, sem dó nem piedade: - Este tal de Vander é gay. O choque foi tão grande que caí da cadeira. Ainda tentando me recompor, levantei-me tal qual uma bêbada, sem querer acreditar no que eu escutava. Sentei novamente na cadeira, defronte a ele, trêmula. Guto foi em frente: - Ele é gay, mana. Todo o campus sabe, menos você e suas amigas. Até um namorado mais velho ele tem. Meu mundo caiu. Senti um vazio no coração quando descobri que meu objeto de desejo gostava de homens assim com eu. Rasguei o "Fascinação" em pedacinhos e sapateei em cima. Por isto que ele não ligava para nós. O negócio dele era outro e eu tinha que respeitar isto. Porém, por dois dias eu não fui à faculdade, esperando meu choque passar. Até hoje meu choque não passou. Nunca contei nada para as gurias, entretanto, após várias semanas, elas também começaram fazer certos tipos de comentários, que eu ignorei por completo. No dia da nossa formatura, o namorado do Vander estava na platéia. Era um homem grisalho, bem apessoado, gente fina. Parecia orgulhoso do namorado. Não pude deixar de reparar. E morri de inveja do amor daqueles dois. |