ISABEL
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Leila Silva Terlinchamp
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Ao
final de algumas horas a casa reluzia, não sobrou um grão
de poeira, uma mancha na parede, cada canto fora revirado e tratado
com água, sabão, vassouradas e espanadas. Depois, o batalhão
de mulheres tomou o rumo da cozinha para cuidar da etapa seguinte, as
comidas. O noivo de Isabel, minha prima, chegaria naquele dia. Tanta
preparação e tanta preocupação! Quem seria
o príncipe merecedor desses cuidados? Perguntávamo-nos
sem, entretanto, largar as nossas brincadeiras que consistiam em grudar
chiclete na calçada, deixar que se amolecesse pelo sol, esperar
que um desavisado pisasse ali e saísse fulminando. Às
vezes esperávamos muito tempo por nada, ninguém passava
ou, quando passava, percebia o chiclete a tempo de evitar a catástrofe
e perturbar o nosso deleite. Guiados por minha prima (não a noiva
mas a sua irmã mais nova) passamos a outros experimentos como
encher um balão de água, esperar um infeliz passante do
alto de uma escada e lançar sobre ele o nosso engenho. Essa era
uma abordagem mais direta e satisfazia melhor as nossas ambições.
Parabenizávamos Valentina pela excelente idéia, mas logo
a minha tia, uma bruxa-desmancha-prazeres, avisada por uma das nossas
vítimas vinha pôr fim ao jogo. Não tínhamos
sossego. |