REMINISCÊNCIAS
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João Rodrigues
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Aquele
sorriso... Apesar
de ter nascido no campo, sair com aquela idade a visitar fazendas vizinhas
era uma alegria indescritível, uma verdadeira glória para
mim; um desejo que qualquer moleque que fosse criado sob o olhar vigilante
dos pais, e eu era um deles, continha guardado no peito e aguardava
ansiosamente por essa realização. Eu aproveitava aquele
momento de fascinação para extravasar todo o meu sentimento
de liberdade, saindo da concha que me enclausurava - a barra da saia
de minha mãe - e passear pelos verdejantes campos sob o fúlgido
sol no raiar da manhã. Poder aproveitar aquele momento mágico
antes apenas explorado por meus ousados e criativos pensamentos era
o néctar, um passeio sobre a Bagdá dos tempos de Aladim
em seu maravilhoso Tapete voador. Suspiro, ao ver o sol nascer através da janela do meu apartamento, um suspiro saudoso, lânguido, ao lembrar das belas manhãs de domingo na garupa do belo e robusto cavalo branco. Meu horizonte ainda está ao alcance de meus olhos, mas não mais do que até a porta da minha sala ou, no máximo, uma avenida, e muitas vezes limitada por um semáforo. Hoje, em meu mórbido apartamento de dois quartos, sem varanda, sinto-me enclausurado, não na barra da saia de minha mãe, coisa que já aboli há muito tempo, mas em um mundo ridículo e sem graça, que trocou meus pitorescos caminhos campestres por imensos corredores de carros, e as magníficas e coloridas borboletas que enfeitavam meu céu foram substituídas pelas reluzentes e traçantes balas de fuzis. ... me fez lembrar de meu avô. |