SOMENTE UM PEDIDO
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Patrícia da Fonseca
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Marisol tinha um sonho. Um sonho simples, mas ao mesmo tempo grandioso. Ela queria que o gênio da lâmpada aparecesse na sua frente. Marisol tinha um pedido para fazer, um só. Acertar a Mega Sena acumulada. Sozinha, sem dividir com apostador nenhum. E sem dividir com mais ninguém. Se o gênio lhe soprasse nos ouvidos os seis números, Marisol ficaria supermilionária. E a primeira coisa que faria seria sumir. Adeus irmãos chatos, tias fofoqueiras, ônibus lotado, patroa exigente. Marisol sonhava com praias paradisíacas, homens maravilhosos, sol 365 dias por ano. Se o gênio atendesse seu pedido, Marisol teria dinheiro para dar um jeito no cabelo, passar uma tinta loira e fazer uma lipoaspiração para acabar com aquela gordurinha na barriga que não teimava em sair nem mesmo quando passava três dias só comendo salada de alface. O primeiro a ser despachado seria o Zeca. Seu namorado há dois anos, Zeca ainda não havia demonstrado a que veio. Trabalhava de Office-boy em um escritório e estava satisfeito com a vida que levava. Marisol queria mais que isto. E depois que ele lhe pediu dinheiro para pagar a prestação do skate que estava vencida há quase um mês, ela decidiu que realmente Zeca não era o homem da sua vida. Marisol queria um homem forte, protetor e de boa aparência. Se o gênio fosse bonzinho, com todo o dinheiro que ela ganharia na Mega Sena acumulada, homens assim choveriam na sua horta. Tudo bem que eles não gostassem dela tanto assim. Com dinheiro sempre tudo é possível. Compra-se tudo, não é mesmo? Compra-se amor, estabilidade, apartamentos em praias ensolaradas, pessoas. Se ficasse doente, médicos renomados cuidariam dela. Jamais precisaria entrar na fila do SUS de madrugada, correndo o risco de nem ser atendida. E as festas? Marisol planejava grandes festas. Gente famosa, influente, as melhores comidas, os melhores vinhos e champanhes. Ela dançando com o homem mais belo da festa até o amanhecer. Então, com o sol nascendo, ambos tomariam um delicioso banho de mar, esquecidos da vida, do mundo, do resto de tudo. Ah, não podia esquecer da sua Ferrari. Até poucas semanas atrás, Marisol não sabia o que era uma "Ferrari". Foi descobrir por intermédio do Zeca que batizou o skate com este nome e depois lhe mostrou uma foto do carro. Marisol ficou impressionada e desde então, a Ferrari vermelha da fotografia não abandonou mais seus sonhos megalômanos. Imaginava-se ao volante da Ferrari, a mais de 150 quilômetros por hora. Marisol não sabia dirigir, mas o que importava isto? Com tanta grana assim, podia aprender em dois dias. E teria no mínimo cinco Ferrari. O Zeca iria morrer de inveja. Mas o diabo daquele gênio ainda não lhe aparecera em uma madrugada qualquer para ela fazer o tão esperado pedido. E a Mega Sena acumulara outra vez. Marisol não tinha nem sequer o dinheiro para apostar. Nem mesmo para voltar para casa no seu ônibus lotado, depois que lhe assaltaram e levaram os únicos dez reais que tinha para passar a semana. E ela vinha caminhando pela rua, sonhando seus sonhos gigantescos, já acostumada a escutar sua barriga roncando, os pés virados em bolhas. Uma coisa no chão, próxima a um jardim florido lhe chamou a atenção. O que era aquilo? Marisol agachou-se para ver o que era. Dez reais. Haviam lhe roubado dez reais e de alguma forma, outros dez reais de alguém que havia perdido estavam ali, ao alcance da sua mão. Aquilo era um sinal. Do gênio ou de Deus. Com aquela nota na mão, Marisol poderia comprar um pedaço de pão para matar a fome e ainda pegar uma lotação para ir confortavelmente para sua casa. Também podia torrar tudo apostando na Mega Sena. Sem dúvida era um sinal. Aquela nota de dez reais não aparecera assim, por qualquer motivo. O gênio da lâmpada deixara ali. Ou mesmo Deus. Marisol, enquanto caminhava rapidamente para a lotérica, decidiu que se ganhasse a Mega Sena, não seria tão egoísta. Doaria para alguma instituição de caridade. Fez tantas promessas que chegou na lotérica confiante de que ganharia. Guardou seu volante dentro da calcinha para não correr riscos de perder ou algum assaltante levar também. Marisol chegou em casa com as bolhas estourando e tonta de tanta fome. Mas ninguém tirava dela a certeza que desta vez acertaria as seis dezenas. |