EXCERTOS DE UM DIÁRIO
Leila Silva Terlinchamp
 
 

(Uma viagem em torno do umbigo, minha destinação favorita.)

Atlanta – Fevereiro 2004 - Madrugada. Não posso dormir, folheio o Krishnamurti – Le changement créateur que recebi de presente. Bullshit... bullshit.... bullshit. Não posso mais com esse livro. Ele inaugurará o cemitério da estante.

Encontrei, no corredor, um vizinho indiano todo vestido de branco, pequeno, moreno e sorridente. Andando no corredor para se exercitar. Faz frio lá fora, é verdade. Girando a chave respondo ao seu cumprimento e às perguntas. Insistiu que eu fosse até o seu apartamento para ver a mulher dele que não fala inglês. Eu falo, ele traduz, ela ri e sacode a cabeça. Sábado já voltarão para a India....até onde entendi. Quer dizer, não são vizinhos, não há móveis no apartamento, só roupas pelo chão e malas abertas. Entretanto aqui não é hotel! Alguma coisa eu perdi dessa conversa.

Nova Iorque. Reencontro Antonio, o amigo galego, ele escolhe para a nossa primeira noite uma peça contra Bush. Tão ruim que quase funcionou a favor. Bocejos. Ai meus 25 dólares.

Massagem em Chinatown. A vida às vezes é bela! Almoço em Brooklin. Restaurante pakistanês, sujo, mas bom.

De novo Atlanta: Biblioteca. Aulas de inglês. Compras.

Março. Magnólias se abrem.

Tento escrever.

Descobri Aimée Mann. Mais Magnólias e filmes.

Uma semana de monge. Tento escrever. Da janela observo os esquilos brincando nas árvores. Distraio.

Espírito Bashô.

Faleceu M. B.

Atentado em Madri.

A. vai passar para devolver-me os sonhos. (A. Korosawa). D. telefonou e, durante uma meia hora, colocou-me a par das aventuras e desventuras dos imigrantes brasileiros de Atlanta.

(Um dia qualquer no século XXI)

C. telefonou e disse que as unhas que esmaltou ontem estão cheias de bolhinhas, nunca viu isso. Alguns dizem que é o vento que provoca o fenômeno mas ela não sabe dizer com certeza, em todo caso, já telefonou para a manicure - que é brasileira – e ela concordou em esmaltá-las novamente.

Março é um tapete de pétalas brancas. O meu café da manhã é uma torrada com clichês e uma caneca de café com metáforas. Quentes.

Dia vinteedois pisei numa folha seca

crac.....

foi sem querer.

A chinesa continua arrotando, sem cerimônia, durante as aulas de inglês e a japonesa veio de kimono.

Maio . Fazendo malas. Mais uma vez.

 
 

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