ÉS CARRADA¹
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Eduardo Sales
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Foi uma carrada acerca da impossibilidade de vivermos juntos.Mas para mim, havia apenas duas razões: tínhamos pouca grana, e o aluguel da casa não poderia ser pago; e o pai, seu grande xodó, estava doente. No entanto eu poderia esperar, pois a amava. Ela tinha dez anos a mais e portava-se com uma certa superioridade de mãe ao meu lado. Seu cabelo, liso, e sua alvíssima pele, além, é claro, de seus lábios rosados, contrastavam a ternura física com uma personalidade maciça, objetiva e tenaz. Dois anos de tentativas inócuas fizeram-me perceber que ela estava certa. Sempre certa. E na minha ingenuidade e inexperiência, tornei-a vulgar, rancorosa, e, odiei-a, por dois minutos. - É a última vez que eu digo a você! Sou sua professora, temos dez anos de diferença, e não possuo grana para nos sustentar. Sua mãe já me ligou sete vezes desde que começamos a nos encontrar e pediu para que eu me afastasse de você. O diretor me disse que se ver-nos juntos novamente vai me despedir. Além disso, este é o seu primeiro relacionamento "sério", mas para mim o que aconteceu foi só sexo. Acabou! Amo o Ronaldo e ele se divorciou por minha causa. Na semana que vem vamos visitar alguns apartamentos e a filha dele, de vinte anos, vai morar conosco. Eu posso até apresentá-la a você... No mês seguinte eu saio desta escola e vou trabalhar no escritório de advocacia do meu futuro esposo. E um último detalhe, estou grávida de dois meses. Agora, por gentileza, eu rogo! Vá viver sua vida! Aos vinte anos, sete meses, cinco dias e sete horas de idade, compreendia que, pedir, além de direito, é um dever. (1) Carrada: Grande quantidade de; conjunto de razões. |