DOJA
III
ou o dragão vermelho |
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Eduardo Prearo
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Em uma manhã ensolarada, um helicóptero desce em algum ponto do estado desértico de Rajastàn. Aterrissa devagar e várias pessoas vão ao encontro dele, curiosas e concomitantemente assustadas. Quando vêem uma desbundante mulher saltar da aeronave, pensam tratar-se de uma deusa. Mas é Doja, agora uma fugitiva que deixou "filho" e pertences no seu próprio país que a esta hora já deve tê-la relegado por completo. Doja avista logo um hotel e fica acescente com umas mulheres simpáticas querendo tocá-la. Quarto 33, quarenta dólares, pagamento adiantado. Ela então se joga na cama, o sol é o do meio-dia, tudo parece um pesadelo. Aquele helicóptero é como uma úlcera. Doja dorme uma dormida profunda. Desperta no pôr-do-sol. Algo de sua infância lhe vem à mente, mais por causa de umas estátuas femininas de mármore que estão sobre uma escrivaninha de madeira de lei e que brilham, do que pelo sonho que teve com Júnior, seu "filho", vendendo ametistas para um velho sábio. O que farei de minha vida, por que vim para cá?, pergunta-se Doja, deprimida. Desde criança, extremamente impulsiva, afastava todos os amigos de forma inconsciente, isolando-se em um mundo todo seu, conversando com seu anjo da guarda, Cristal, sempre do lado dela, e no momento, presente... --- Cristal! Conversa comigo? --- Você tem uma missão, Doja. Não se esqueça disso, viu? A população desconhecida nunca a perseguiu, você esteve equivocada. Daqui a pouco, um polícia baterá na porta. Vá, pule a janela antes que ele venha, siga pela estrada de ferro, e tome cuidado com o trem. --- Chega de fuga, vou entregar-me. As pessoas ficam me olhando como seu fosse um marginal, e isso ocorre em qualquer parte. Não é neurose, é real. Tudo em minha vida parece controlado por desconhecidos, até as finanças, até a miséria. Querem me ver no mais lá embaixo que houver, querem me matar. Mas no final são sempre os inocentes... --- Pense em Deus, pense em uma linda rosa branca desabrochando. Fé, esperança e amor. Mas a maior destas virtudes é o amor. Eu te amo. --- Não vou seguir seu conselho, Cristal. O inferno está cheio deles, o inferno é aqui, dizem. Estou sem dinheiro, agora. Preciso é trabalhar. Um polícia dá três batidas pesadas no quarto 33 e Doja se apavora. Talvez me levem para a cadeia, pensa. O mundo parece bravo quando um polícia desconfia...Mesmo irresoluta, abre a porta... --- Não, não tá tendo rock and roll por aqui não, seu polícia. O quê? Não entendo sua língua, é grego? Me solta, me solta, cafajeste! Na delegacia ou algo parecido, oferecem um xailemante à Doja e ela não recusa, pois faz muito frio, é inverno. Um tradutor com uma pinta no meio da testa traduz tudo o que a errante fala. --- Preciso de ajuda, não estou surtando, não tomei meu "remedinho", hoje. Deixei "filho" em meu (sic) país porque cometi um crime em legítima defesa. Os homens de preto, americanos, conhece?, tentaram me assassinar. Pertenci à organização deles por dois anos, mas desertei por razões muito pessoais sabendo de segredos de Estado, voltando a meu (sic) país de origem para ser mãe adotiva, um programa onde crianças acima de cinco anos e orfãs, escolhem suas mães. --- Dona Doja, disse o tradutor, por hoje eles disseram que é só. A senhora continuará no hotel. Vão estudar o seu caso. --- Oh, obrigada...como é mesmo o seu nome? --- Paul Valery, em homenagem ao grande poeta francês. Sabe, Dona Doja, quando eu era moleque também me aventurava assim como a senhora. Mas lembro-me que isso não me tonificava absolutamente, e sim deprimia. Eu sempre fui meio molóide, sabe. Quando viajei para a América do Sul, fui para Montevideo e me dei bem mal. Fiquei andando pelas ruas daquela cidade sem saber o que fazer da vida, sentindo o dinheiro acabar, surtando, etc, etc, etc. --- Au, eu sinto, Paul. Leve-me até o hotel, vai, vai. Quem sabe amanhã é outro dia. --- Será um lindo dia, será. Conta a lenda que se mentalizarmos o dragão vermelho, este aqui da foto, olha; se mentalizarmos o dragão vermelho, tudo melhorará... |
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