Ele caiu no sono como se os mistérios de sua alma o chamasse. Em seu sonho louco ou presságio, caiu por um túnel e se viu adormecer na pedra, respirar na planta, movimentar-se no animal e acordar no homem. Como poderia sentir-se parte de todos os reinos, seria uma evolução? Não sabia. Foi tocado pela paz que muitas civilizações vem buscando à séculos. Paz que em seu nome muitos morreram. Ele sentiu o outro lado, olhou para baixo e viu seu corpo adormecido sobre a cama; queria voltar, contudo, o aroma de lírio entonava o tom da morte e o conduzia por um túnel de luz. Viu seus erros e acertos, quem amou e fez sofrer, sentiu dores por seus mais sórdidos pecados.

Tocou a cobiça, foi arranhado pela inveja, queimado pelo ódio, humilhado pelo desprezo e atiçado pela luxúria. O bem e o mal reviraram sua vida em segundos ou foram horas, o tempo não importava mais. Sentia-se fraco e na hora de sucumbir, ergueu a mão e fez um pedido para alguém de quem quase não lembrava no dia a dia.

As luzes se apagaram e ele acordou estendido ao chão; não lembrava nada, sentia-se apenas agitado. Chorou e sua terceira lágrima saiu vermelha e secou sem tocar o chão; em um ato instintivo ajoelhou e pediu a Deus a chance de aprender com os próprios erros e corrigi-los.

Não se sabe as origens de certos sonhos e visões, mas, às vezes, você recebe uma segunda chance e deve aproveita-la.