MÔNICA
Carlos Mestre
 
 

Mônica me olhou de um jeito estranho, como nunca fizera antes. Fiquei constrangido com a profundidade daquele olhar, porque ele parecia vasculhar-me os pensamentos - e eu morria de medo de que eles fossem capturados. Enfiei minhas mãos para baixo da mesa, receoso de que elas, trêmulas, me delatassem de vez. Mas o meu olhar sempre foi o meu maior inimigo. Baixou, sem resposta, na direção do guardanapo sem cor.

Ela se levantou, enraivecida. E eu achei que fosse embora. Não reagi. Mas ela foi ao toalete, deixando a bolsa sobre a mesa. O garçon aproximou-se avisando que precisava fechar o bar. Paguei a conta.

Mônica voltou e insistiu muito para que eu dormisse com ela naquela noite, a última noite. Resmunguei que não haveria última noite. Nós nunca teríamos uma única noite. Todas as noites seriam nossas.

Sua mão explodiu como uma granada no meu rosto. Meu celular tocou. Era o número de casa.

Minha mulher me esperava para jantar.

Naquele dia, infortúnio meu, ambas pediram que eu deixasse a outra. A coragem me faltava. Construíra um lar com Beatriz e descobrira o amor com Mônica. Pedi-lhes tempo. Mas o tempo não me quer bem.

 
 
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