EUTANÁSIA
INVOLUNTÁRIA
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Álvaro
Brandão
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Quando Marco percebeu que aquele homem se ia atirar para a frente do seu automóvel era demasiado tarde. Embora ainda tivesse tentado, já não conseguiu evitar o violento atropelamento. Em pânico, saiu do carro e deparou-se com o corpo do homem deitado numa poça de sangue que rapidamente alastrava. Compreendeu de imediato que este já estava morto. No entanto, e apesar da violência do acidente, o rosto daquele homem manifestava uma serenidade invulgar. Ao olhar em pormenor para a T-shirt que aquele corpo envergava, e apesar do sangue que abundantemente começava a cobri-la, conseguiu ainda ler, com enorme espanto, as palavras que aí estavam impressas: "Obrigado. Deus lhe pague". Marco entendeu então que o atropelamento não tinha sido um acidente. Também não se tratava exactamente de um suicídio, e muito menos ainda de um homicídio. Embora involuntariamente, ele acabava de concretizar a sua primeira eutanásia. |