NAMORADA PONTO COM
Alberto Carmo
 
 

Arrumei uma mina toda plugada. Quem não a conhece, à primeira vista acha que se trata de alguém recém-saída de alguma UTI, andando pela rua toda entubada. Ela é multimídia e ..., na minha opinião, ventríloca - muito louca. Fala comigo e com o celular sem pestanejar, e ainda manda torpedos com o mindinho sem perder o ritmo da MP3 que lhe fica batucando nos tímpanos.

Não preciso dizer que ela preenche os atributos básicos de uma boa namorada na hora do vamos ver. Caso contrário eu não estaria por aí com uma mulher mais cheia de fios e raios infravermelhos do que aranha no cio. Mas, deixe de ser curioso, porque eu não vou contar como a coisa se desenrola. Talvez eu conte, fique no suspense.

E não pensem que me foi fácil conquistá-la, muito pelo contrário. Além de me custar horas a fio lendo manuais de Javascript e de geringonças "wireless", tive que participar de meia-dúzia desses trecos de "quiz" e assistir, muito a contragosto, por duas vezes, ao Matrix. Vomitei no banheiro do cinema, mas nada que umas balas de hortelã não dessem conta. Mas ela valia a pena, as pernas, para ser mais sincero.

Foram dois meses até ela me botar nos "favoritos" dela. Entrei competindo com uns três malucos que tinham câmeras, ou "webcams", como eles chamam, embutidas nos óculos. Justo eu que fico tímido diante do público. Mas fui à luta com a coragem de um chip! Coloquei um arroba no meu sobrenome e tratei de me apresentar:

- Oi! Eu sou o Zé Arroba Ponto Com" - já cheguei arrasando.

- Sem Br? - ela perguntou com olhos arregalados.

- Exato, sem Br. Sou um Ponto Com legítimo! - respondi abanando as orelhas com aqueles miseráveis fones de ouvido que parecem um OB.

- Galera, ele é só Ponto Com, sem Br! - ela me anunciou àquela cambada de nerds que a acompanhavam.

- Pô, belê! Só! - grunhiram os colegas da gata.

- O que a gente não faz por um belo par de coxas! - murmurei em alguns decibéis.

- O que disse? - perguntou a gostosa.

- Nada! Era minha mãe no ICQ, liga não.

Trocando em miúdos, ela acabou caindo no meu lero e fomos a um motel que mais parecia a Enterprise - era fio para tudo que é lado. E monitores de cristal líquido, e mais botões que o espartilho da minha professora de português no ginásio. Mas a lolita cismou comigo e eu aproveitei - tasquei fogo.

Se ela gostou ou não nunca vou saber - eu gostei de ouvir música "dance" na hora agá. Não que aquilo combinasse com romantismo e fungações, mas acho que curti um barato - entrei numas. Pensei em dar um botão de rosa a ela depois, mas cheguei à conclusão de que ela ia pegar um tubo de marshmellow, espirrar na flor e comer de uma só golada. Deletei a Mata Hari cibernética com pesar - as coxas eram rococós, embora o restante fosse mais musculoso que meus bíceps nos bons tempos. E macaco velho não bota a mão em cumbuca!

Só peço a Deus que ela não se transforme num SPAM da minha vida.

 
 

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