A VELHA DO BOSQUE
Tatiana Alves
 

Uma mulher - uma bruxa, na visão das pessoas da aldeia - vivia sozinha no meio da floresta. Plantava, colhia e cozinhava seu próprio alimento. Saudosa de uma época em que seus conhecimentos eram respeitados e ela reverenciada como uma sábia, preferia ignorar o progresso da vida civilizada e, assim, mantinha-se reclusa no bosque. Vez por outra, uma jovem receosa vinha pedir-lhe uma poção ou ungüento. Ora para engravidar, ora para livrar-se do filho indesejado, ora para amenizar os males criados pelo homem.

A velha havia presenciado o nascimento de diferentes gerações, e observado as mudanças que se operavam com o passar do tempo. Apenas ela, alheia a modismos, continuava com seu velho caldeirão, sua vassoura e seus animais – um gato, um morcego e uma cadelinha, para contrariar o velho clichê. Apesar do afeto de seus companheiros de exílio, ela frustrava-se por não mais reconhecer aqueles de sua espécie.

Numa noite de tempestade, um viajante que aparentemente se perdera na estrada veio bater à porta. A velha, desacostumada a visitas noturnas - se já era temida durante o dia, à noite então ninguém ousava se aventurar no bosque - , abriu a porta como se já aguardasse há muito o estranho e melancólico hóspede. Saudaram-se respeitosamente, como se repetissem um ritual tantas vezes executado, e olharam-se nos olhos, até que a velha resolveu falar:

- Dessa vez você demorou. Já estou pronta.

Dito isso, deu o braço ao homem, e juntos caminharam até se perderem nas brumas da floresta. Quem os visse comentaria talvez a estranha alegria da velhinha encarquilhada que sorria, como uma criança, na companhia da criatura que trajava um manto negro e trazia, na mão esquerda, a foice com que ceifava o tempo.

 
 

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