O ÚLTIMO ENCONTRO
Patrícia da Fonseca
 
 

Tati passou a tarde do sábado no salão de beleza. Fez as unhas - todas as vinte - chapinha no cabelo, uma maquiagem leve, mas que a deixou com um rosto luminoso e, para finalizar, drenagem linfática. Quando saiu do salão, isto já passando das seis horas da tarde, sentia-se outra mulher. Até o seu jeito de andar estava diferente. Chamou a atenção dos homens que passavam e atraiu a inveja de muitas mulheres que cruzaram com ela. Tati arrasava e sabia disto.

E será que daria certo? Toda a sua produção tinha um único objetivo. O nome deste objetivo era Rodolfo. Rodolfo, o gato da academia. Ele começara a azarar Tati desde a primeira vez que ela pusera os pés lá. No início, ela resistiu. Não, não devia ser com ela. Ele queria apenas tirar sarro da sua cara. Mas com o tempo, Rodolfo foi se revelando um cara legal, interessante e de bom papo, apesar de todos os seus músculos. E, quando Tati caiu em si, estava apaixonada.

Apesar da sua timidez, fôra exatamente a Tati que decidira tomar uma atitude. Depois de mais de um mês só de papo cabeça, olhares cruzados e nada mais além disto, Tati respirou fundo e decidiu que convidaria o Rodolfo para um encontro. Que mal haveria? Poderiam se encontrar em um barzinho, no shopping para ver um filme. Certamente ele aceitaria. Afinal há tanto tempo que estava a paquera-la, que seria impossível que ele recusasse o convite. E ela, depois de respirar fundo centenas de vezes, entre um exercício e outro nos aparelhos de musculação, convidou-o para uma saída. Assim, direta. Um pouco seca, até. Tati sentiu que Rodolfo ficara surpreso, assustado. Inclusive achou que ele recusaria. Já estava preparada para a resposta negativa e para a debandada estratégica dela da academia. Entretanto, Rodolfo respondeu que sim. Tati controlou a excitação. Combinaram de se encontrar na praça de alimentação do shopping e então iriam ao cinema ver um filme indicado ao Oscar. E depois. bem depois o destino reservaria, com certeza, um lugar em que poderiam ficar a sós e à vontade.

Tati saiu do salão direto para o shopping. Chegou dez minutos antes da hora combinada. Dirigiu-se imediatamente à praça de alimentação e ali se instalou. Os olhares dos homens eram muitos; Tati não viu nenhum. Quando começou a suar nas mãos, resolveu pedir um suco de melancia. Quem sabe se acalmasse. Tati consultou o relógio. Rodolfo estava atrasado já 15 minutos. Bem, o filme começaria dali a meia hora. Daria tempo ainda de ele chegar e ambos assistirem ao filme.

O suco de melancia acabou. Tati pediu outro. Disfarçadamente, Tati varria cada canto do shopping com seus olhos, na ânsia desesperada de ver Rodolfo chegando. Faltavam dez minutos para o filme começar. Ainda dava tempo, ela disse para si mesma. Tanta gente chegava ao cinema quando tudo já estava escuro...

Por fim, quando já fazia mais de meia hora que o filme já teria começado, Tati pegou a bolsa, pagou os três sucos de melancia que havia tomado e foi embora. Sentia-se a última mulher do universo. Sua maquiagem já deveria estar horrível, por conta de uma maldita lágrima que teimava em escorrer. Imaginou-se chegando em casa depois de toda a propaganda que havia feito, da noite maravilhosa que teria pela frente. O que era para ser a primeira vez de muitas coisas interessantes, se tornara o último encontro. O último encontro de Tati com sua ingenuidade, com sua inocência, com sua alma de adolescente apaixonada. Quando Tati chegasse na academia na segunda feira, deixaria toda a sua educação de lado e atiraria um halter de cinco quilos na cabeça de Rodolfo. Tudo bem que fosse expulsa do lugar, mas nunca mais homem algum a faria de trouxa novamente. Menos mal que entre tantas decepções, a chapinha ficara legal.

 
 

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