CRÔNICA NÚMERO 17
Osvaldo Pastorelli
 
 

Caro amigo

Creio que posso assim nomeá-lo, apesar de não termos, penso, tal intimidade, o que espero esteja a diminuir com esta que ora lhe envio.

E se com isso posso alterar algo, lhe digo que você me trouxe novamente o gosto pela missiva.

Vejo que a admiração do amigo poeta Manuel é justificada diante do que acabo de ler e reler e me vem à mente certa frase expressada um dia pela amiga poeta Maria Conceição de Oliveira: Tudo o que o Daniel Francoy escreve eu gosto.

Não me lembro o porque ou onde essa frase se situava naquele momento pronunciado.

Mas sei que naquele momento você me era estranho, e automaticamente meu cérebro formulou no abstracionismo do pensamento a pergunta: Quem é Daniel Francoy? E ao mesmo tempo em que foi formulada morreu ao passar de olhos por seu nome. E essa frase: Gosto de tudo o que o Daniel Francoy escreve, me veio à mente quando tão bem o Manuel, merecidamente fez alusão ao seu texto potencialmente carregado de forte conteúdo, e lhe digo, não pare, continue.

Não estou sendo insincero, não meu amigo.

É a mais pura verdade de quem há muito gosta de ler a boa literatura que estimula e arrebata deixando no peito um fresco de gratificação.

Talvez seja esse sentimento que eu sentia toda vez ao ter um bom livro diante dos olhos.

Quem me fazia sentir não diferente, ou melhor, mas parecia que eu subia mais um degrau no campo da intelectualidade.

Claro que capenga, pois o que lia comigo ficava, não tinha com quem trocar idéias, conhecimentos, desenvolver a mente, e que hoje para mim se tornou uma falha.

Pergunto: nunca quis publicar?

O que você denomina de Cartas, o que me parece não ser, vislumbro um conteúdo bom para um romance, uma novela, um conto, um livro.

Penso não ser difícil esquematizar, pois como nas cartas e nos poemas, há uma fluidez espontânea sem precisão de aparar, reescrever, sem modificar.

São 02:12 da madrugada, por duas vezes o sono derruba a caneta riscando esse rascunho de crônica.

Nesta vida de desencontros quando surge um encontro, ou um último encontro, deve-se festejar.

O que não é meu caso no momento e, no entanto...

"Quando digo que vivemos várias vidas ao mesmo tempo..."

Há nisso uma possível série de conjeturas que poderá levar à interpretação errada, acreditando ser você adepto ao espiritismo.

"Ainda, note bem, não sou religioso".

Espiritismo é ciência não religião.

Todos têm sem saber várias vidas, apenas não definem e não sabem a explicação do que acontece como você tão bem sabe.

Eu tenho todas essa vidas, não me envergonho delas, somente que elas não são bem definidas como são para você.

Isto é, nunca pensei dessa maneira.

Essas várias vidas é preciso saber vivenciá-las e com elas conviver.

 
 

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