FIM
Lisandra Gomes Coelho
 
 
...Lá vinha a noiva!

No mês passado, tive meu primeiro dia de trabalho em uma equipe destas que filmam casamentos. O primeiro e o último.

(Na vida, é bom conhecer as pessoas certas).

Lá vinha a noiva e, junto com ela, ou melhor, diante dela e de costas para o altar, vinha eu. Ela estava muito bela e ricamente decorada, como convém a esta gente.

Apenas quando ela já estava sobre o altar e, tanto noivo quanto noiva encontravam-se de costas para os portões da igreja, é que pude vê-lo. Pedro Augusto também estava finamente enfeitado, como convém a alguém que vá se associar a esta gente.

O padre fez seu trabalho. Eu fiz o meu. O noivo fez o dele, beijando a noiva e se tornando, então, parte de uma família quatrocentenária, como convém a esta gente acreditar que eles são.

Foi quando entraram no salão de festas que, distraída, descansando um pouco o ombro, carregando a câmera pela alça, fui vista por Pedro, finalmente, que só então soube quem é que estava registrando os momentos iniciais de sua vida escrava.

A expressão de choque e pavor dele disse-me com todas as letras e mais algumas que ele temia que eu abrisse minha boca e toda aquela família ficasse sabendo que eu era aquela que havia sido sua amante ao longo daqueles quatro anos de noivado. Mas longe de mim fazer isso. Aquele era nosso último encontro, e eu não queria estragá-lo. Principalmente porque era também nosso primeiro encontro em público.

 
 

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