NOSSO ENCONTRO
Ivone Carvalho
 
 

Conversamos muito como tantas e tantas vezes.

Sentados muito próximos um do outro, eu podia sentir o calor do seu corpo que se transmitia ao meu. Você segurava minhas mãos, olhando nos meus olhos, vez ou outra deslizando seus dedos nos meus braços ou delicadamente no meu rosto.

Quando eu dizia algo que fazia você ver sofrimento nos meus olhos, seus dedos sugeriam que eu me calasse, tocando meus lábios com doçura. Quando alguma lágrima não me obedecia e teimosamente rolava, você a enxugava com carinho, ora com a ponta do indicador, ora com um beijo terno.

Não era a primeira vez que conversávamos, mas era como se fosse. Talvez parecesse mais com uma conversa que se desenrolou depois de muitos meses ou, talvez, anos, de espera do momento certo, para que todas as nossas mágoas viessem à tona e limpássemos, vez por todas, os obstáculos que se colocaram em nossos caminhos, dificultando o nosso grande entendimento, o abraço mais desejado, o beijo mais ansiado por nós. O encontro, enfim, da felicidade que sempre buscamos e que nos olhou de longe quando nos conhecemos, mas que não teve coragem de entrar em nossas vidas de uma vez só, preferindo aguardar o momento certo, o momento em que já estivéssemos preparados totalmente para nos entregarmos a esse amor sem igual.

Você me ouviu atentamente. Muitas vezes vi seus olhos marejados fazendo companhia aos meus. Tantas vezes vi seus olhos brilharem de felicidade quando eu conseguia lhe transmitir melhor o quanto eu o amo e o quanto você faz parte da minha vida e é importante para mim.

Depois você falou.

E eu o ouvi com a mesma atenção, carinho e amor com que fui ouvida. Serenamente, pela primeira vez eu creio, você falou das suas mágoas, do seu sofrimento, das dúvidas que abalaram nossas vidas, dos seus desejos, dos seus sonhos, do profundo amor que jamais foi reduzido, embora você tivesse lutado contra os seus sentimentos por ter acreditado que a distância entre nós é que o faria feliz.

Deixei que você desabafasse da mesma forma com que você me permitiu desabafar. Também o meu indicador freou algumas lágrimas que insistiram em rolar dos seus olhos. Nesses momentos, nossas mãos se apertavam mais unidas. Era como se elas interpretassem o que os nossos corações estavam dizendo, determinando que nunca mais nos separaríamos e que nossas energias se uniriam para que não mais sofrêssemos a distância, o silêncio, a separação.

Calma, lenta e docemente nossas palavras passaram a não mais transmitir as dores que sentimos, os nossos sofrimentos. O verbo se transformou em poesia da mais pura e mais nobre, aquela que flui com energia ímpar de nossas almas, a poesia que traduz o mais terno, profundo e sublime sentimento de amor, o amor que permeia nossas vidas, que arde em nossos corpos, que lateja em nossas veias, que sangra dos nossos corações, que enobrece as nossas almas.

Nossos corpos se envolveram no mais forte e sentido abraço, nos unindo como se fôssemos um só, onde o côncavo e o convexo se completaram com amor, como que materializando a figura do quebra-cabeça que necessitava de uma única peça para ficar concluído e irradiar beleza.

O primeiro beijo selou nossas almas, tal o nó que faltava para não mais desatar nossos laços.

Entre lágrimas e sorrisos, outros beijos se seguiram, mas o abraço foi único: não mais nos desvencilhamos e sabemos que esse envolver de braços e corpos estaremos sentindo a cada instante de nossas vidas, porque dele precisávamos, vez que os nossos pensamentos, os nossos corações e as nossas almas, sempre estiveram unidos e enlaçados. Desde quando, não temos noção, já que é impossível sabermos há quantas vidas existimos, mas, até quando, temos plena convicção e será por toda a eternidade.

Você não estava presente fisicamente nesse encontro, mas tem sido assim há tanto tempo!
Converso com você, acaricio seu rosto que talvez esteja dormindo ou quem sabe entre as mãos de alguém que tenta fazer você me esquecer. Mas, a força do meu pensamento, certamente encontra a força do seu e, onde quer que esteja, há de sentir a minha presença, como eu sinto a sua.

Sonho com a chegada desse dia e creio firmemente na sua realização. Por enquanto, esse encontro e essa conversa são frutos da minha certeza de tanto amá-lo e de ser tão amada por você. E essa certeza é que me dá forças para viver.

Que a chama dessa Esperança jamais apague dentro do meu coração e que ela exista dentro do seu na mesma intensidade!

Nosso último encontro ocorreu enquanto eu dormia, mas há de acontecer realmente, algum dia, em algum lugar onde possamos viver o mais lindo amor que já se ouviu falar em todos os tempos. E esse será apenas o primeiro de tantos outros que virão.

Preciso lhe dizer o quanto eu o amo?

 
 

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