CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
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Eduardo Sales
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Quatro grandes amigos que fizeram todo o ensino médio juntos, entre 1995 e 1997. Diátria, Vítor, Flaudemir e Beatriz. Após terem se formado, mantiveram o contato. Passaram-se alguns anos e nenhum se casou ou teve filhos. Decidiram se encontrar para ver um jogo da seleção na Copa de 2002. A partir daí, muito aconteceu. Diátria, uma garota que não vive o durante, sempre ansiosa. Comprou um celular que a filma, e quer mais. Esquece de buscar a si mesma nos escombros de seus desejos, como num campo de concentração. - Hei, Vítor, e o que aconteceu com o Batata? Vítor, padeiro, queria ser professor de História, mas não pôde ainda porque não teve a oportunidade. Agora sonha em explodir a padaria e com uma casa própria em Propriá, Ceará, terra de sua família. - O Batata assou por aí, envolveu-se com drogas. Flaudemir é vendedor, vende seu sorriso, seu esforço, todo dia. Procura sempre vender mais, e perde, aos poucos, seu vocabulário, suas idéias, sua evolução. Sente-se deitado e cercado, sem forças. - Tem que se "fudê" mesmo!! Maria vai com as outras! Beatriz, atriz de teatro, escrava da dúvida, do poder ser, do talvez. Sonha em viver o máximo que puder. E se pudesse, envenenaria seu diretor com gás. - Coitado! Eu gostava dele. São filhos do tempo, que esqueceram de viver o presente, escravos da pressa e da ansiedade, do consumo e da conquista. E se tivessem nascido ricos? Vorazes os lobos que têm fome, eles têm fome. Mas, se não o tivessem, morreriam? Ou seriam meros narradores de hipóteses como eu. Mas eu tenho fome! Pois bem, os quatro amigos se encontram para ver o jogo do Brasil contra a seleção da Turquia e, ao final, esquecem dele. Percebem que têm algo tão forte quanto a amizade em comum: a ira por seus patrões, que são "impiedosos". Diátria é desrespeitada todo dia. Seu patrão, o Lima, explora seu trabalho e diz que a moça é burra. Vítor, o padeiro, praticamente ignora Diógenes. Porém é o ar de superioridade de seu chefe o que lhe dá asco. Flaudemir têm o "melhor gerente do mundo", é o que todos dizem. Mas tem inveja de Branco. O problema de Beatriz é o diretor da peça que grita com ela a todo momento. A moça está traumatizada e dependente do cigarro. -Vamos seqüestrá-los!, disse Diátria. -Eu não disse nada, narrador!, disse Diátria. -Ok. -Vamos seqüestrá-los e pedir todo dinheiro que pudermos às suas famílias!, brada Vítor. Todos concordam. É hora de "por fogo no boneco". Alguns meses se passam e todos seriam indiciados por seqüestro. Acabariam presos. Decidiriam, por meio de cartas, fazer outro pacto e serem piedosos consigo mesmos.Um pouco de paciência não faria mal. "Viver cada dia a sua beleza e não se comparar ao outro". Essa era a última frase de Beatriz em sua peça. A moça decidiria resignar-se e viver cada dia, até a liberdade. Diátria, Flaudemir e Vítor fariam o mesmo. |