SENHOR, TENDE PIEDADE DE NÓS!

Waldyr Argento Júnior
 

Tudo parecia normal naquele belo domingo de sol. Como de praxe o vigário levantou cedo, tomou um café da manhã reforçado e partiu tranqüilo para a missa matutina.

Botou o tradicional uniforme que devido a sua pança avantajada, era a única parte da celebração que ele detestava. Aquela igreja quente e que para piorar não possuía janelas, deixava o cidadão todo suado.

Passou tranqüilo pela primeira parte, quando deu as boas vindas aos fiéis e quando estava já engrenando a terceira marcha aconteceu algo inusitado.

- Senhor, tende piedade de nós!

- Cristo, tende piedade de nós!

Todos rezavam em uníssono, quando de repente o padre ficou mudo, paralisado e feito um lutador de Box na hora do nocaute, caiu desfalecido no meio do altar. Os coroinhas e os assistentes ficaram paralisados, os fiéis não acreditavam no que viram. Fim do primeiro ato, e o dito cujo acorda num lugar lindo, cheio de luz e paz.

- Onde estou? Meu Deus, será que bati as botas?

- Nada temas, tu és um homem de bem, ou estou equivocado? – respondeu um velho senhor de barba branca.

- Sim, sou o vigário e como tal sempre procurei dar o bom exemplo.

- Tá bom, vamos verificar aqui no DVD da sua vida, ok?

Foi aí que o nosso herói gelou por dentro. E se eles tivessem o registro do dinheiro desviado das obras em prol do seu pequeno e belo meio de transporte. Bom, porque era mais ou menos assim que aquele seu fusquinha setenta e oito poderia ser descrito.

- Sr Vigário, algum problema?

- Não pode colocar o disco pra tocar.

- Quê disco meu caro? Eu estou preparando o DVD virtual portátil de última geração e que se trata de um objeto do tamanho de um grão de areia, mas que armazena informações de uma vida inteira!

- Tudo? Tudinho mesmo, ele não deixa passar nada?

- Por que essa pergunta agora? Não vá me dizer que está preocupado?

- Não, não é isso não! – respondeu rapidamente, porém suava por dentro das vestes, ao se lembrar do seu caso com a Dona Florisberta, a beata linda que de tanto insistir levou o velhinho à loucura.

- Há bom, tá tudo ok então? Vamos colocar o aparelho pra funcionar. Interrompeu-lhe o velhinho.

- Me, me, me serve um copo d’água por favor?

- Hum, tô achando estranha a sua atitude. Você está com medo, tem culpa no cartório?

- No cartório? Não claro que não, ora bolas! – bradou, desta feita já com a roupa toda molhada e agora já era mais de suor.

Na verdade ele não possuía culpa no tal estabelecimento citado, no caso dele era culpa no “ofertório”.

- Oi, vamos então ao copo d’água.

- Ai que bom poder beber essa água geladinha aqui do céu!

- Que céu? Aqui é o pré-céu! Se você passar no teste você pega aquela subidinha ali pro leste. Se perder, mas ficar com média cinco, pelo menos, vai fazer um estágio aqui comigo. Mas, se o seu boletim não for pelo menos razoável, sinto dizer, mas terá que descer por aquela ladeira ali do ...

- Aiiiiií! Aiiiií! Socorro, Deus me perdoe por favor! – Gritou o padre para espanto dos assustados fiéis.

- Que foi seu vigário? – perguntou-lhe a bela beata que apoiava sua cabeça sobre suas lindas e bronzeadas coxas.

 
 

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