CÚMPLICES
Zeca São Bernardo
 

Fins de tarde
A beira do velho fogão
Da casa de minha vó.

Sumiam, misteriosamente, e
Como sumiam as coisas
Naquela cozinha!

Eram lingüiças, salsichas e
Almôndegas raptadas pelas
Pequenas mãos de menino meladas de doce...

Quais? Lembro-me de todos!
Goiabadas, marmeladas, doces de leite.

A culpa desses pequenos furtos?
Recaia sobre o velho vira-lata, claro.
Afinal dividíamos o lucro
Destas obtusas empreitadas.

Dividíamos as salsichas e lingüiças
Pelas metades, já as almôndegas eram
Deleites apenas meus.

E pensar que olhávamos acusadoramente
Para o gato desdentado que passava a nossa
Frente, sempre fugido.
Todos sabiam que éramos cúmplices!
Hoje, percebo, nunca enganamos ninguém.

 
 

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