OS ESCRITORES
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Raymundo Silveira
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Um dia desses alguém me perguntou o que eu achava da situação dos escritores brasileiros. Respostei com outra pergunta: a que espécie de escritores você se refere? Pois falar homogeneamente desta "classe" é tão absurdo quanto indagar sobre o formato das nuvens. Entretanto, forçando um pouco a barra e com muita boa vontade, dá para cuidar de uma caricatura de classificação. Neste exato momento abro um parêntese porque estou rindo ao me lembrar dum dono de bar. Ele classificava os bêbados, basicamente, em três tipos: pai d'éguas, éguas e filhos duma égua. Fecho o parêntese. Voltemos aos escritores. É mais ou menos a mesma coisa, mas a reverência que tenho por quem escreve me impede de prosseguir na linha de raciocínio do barman. Poria, então, os meus colegas, grosso modo, também em três categorias: os que ganham dinheiro para escrever, os que não ganham nem gastam nada e aqueles que pagam. Os primeiros poderiam ainda ser distribuídos em duas subclasses: os que auferem, com a escrita, dinheiro suficiente para se manterem, quem sabe até para enriquecerem, e os biscateiros. Até aqui não comento nada inédito nem extraordinário. Todos sabem que é isso mesmo. Todavia, a questão não é tão simples quanto se supõe. Por exemplo, até que ponto um autor almeja fazer da escrita a sua única fonte de renda? Será que alguns não se sentiriam muito mais bem "remunerados" por serem conhecidos, lidos e reconhecidos pelo maior número possível de leitores? Ou pela crítica? Trata-se, portanto, de uma matéria subjetiva. Muito diferente é a situação de quem paga para ser publicado. Já se ouviu demais que todos os grandes autores assim procederam no princípio da carreira. Ou seja, ninguém escapou de pagar pelo seu volume de papel impresso com o nome na capa. Não há dúvida. Foi isso mesmo. Ou seria assim, ou jamais se tornariam escritores. Pelo menos, escritores minimamente lidos e conhecidos. Machado de Assis certamente pagou para mandar imprimir os seus primeiros romances. Mas os defensores deste argumento esquecem de um pequeno detalhe: no tempo do bruxo do Cosme Velho era comum acreditar-se infinitamente mais em almas penadas do que em Internet. Imaginem José de Alencar com um computador e um modem conectados à rede. Haveria sentido se ele deixasse de publicar, gratuitamente, "A Viuvinha" ou "Cinco Minutos" e preferisse pagar caro e ficar esperando para ser editado, em capítulos, em semanários lidos por algumas centenas de gatos pingados? Ou os editaria logo ao terminar de redigir, tornando-os imediatamente disponíveis para os milhões de leitores do mundo que entendessem o português? Contra isto, existe o argumento da violação dos direitos autorais. Tudo bem. Obviamente, o Carlos Heitor Cony, a Márcia Denser, o Paulo Coelho, a Lygia Fagundes Teles, o João Ubaldo Ribeiro, a Urda Alice Klueger, a Nelida Piñon, não seriam idiotas a ponto de atirarem para o ar as suas obras, avidamente disputadas, a troco de nada. Mas, minha gente (essa expressão...), nós não somos eles. Ponham os pés no chão. Caiam na real. Se manquem. Demos graças a Deus e aos sites que publicam as nossas escrevinhações. De graça. Com graça. Bonitinhas. Para o mundo inteiro ler. Alguns, inclusive, em traduções para vários idiomas. Este que escreve tem textos publicados em inglês, francês, espanhol, italiano e alemão.® De graça. Saibam que tem gente pagando caro por muito menos disso. |