O FURTO DA CUECA DO MARUJA
Paulo Panzoldo

 
 
É um desqualificado. Dizia que era Delegado de Polícia nas horas vagas. Não vou citar seu nome, mas cito o apelido: "Doutor".

Pois Doutor era casado com filha de desembargador. Menos por amor, mais por safadeza, foi o único jeito que achou de ingressar na carreira autoritária.

E ficou rico o Doutor. Corrupto não era, ganhou mesmo foi muito dinheiro com a insegurança e a violência que assolam nosso Brasil há anos. Montou uma empresa, dessas de Vigilância, e do Plantão fez o balcão, de cada vítima fez cliente em potencial. Uma mina de ouro, convenhamos.

Os anos passaram e o majura, já de carrão importado, encontra um velho amor quase esquecido. Saíram, jantaram, dançaram e foram terminar a noite no apartamento dela. Bebeu demais o Delegado, e adormeceu. E quando acordou o sol já ia alto e na pressa, esqueceu de vestir a cueca.

Chegou em casa com um ar tão cansado que não precisou nem disfarçar. Inventou um flagrante de homicídio, que realmente ocorrera, mas em outro plantão, local ermo, de difícil acesso, como costumam ser os homicídios ocorridos na periferia. E a madame até que ia acreditando, quando, no banheiro, deu pela falta da cueca.

Não era uma cuequinha qualquer, não. Era sim uma cueca de grife, caríssima, importada, de seda azul, que ela dera de presente ao marido no último Natal. E perguntou cadê a cueca? Cueca? Sim, a cueca de seda que eu te dei no Natal? Aí ele teve que inventar, que ele havia ido ao local do crime e voltou imundo e que tomou banho na delegacia, e que pendurou a cueca na torneira do chuveiro e que saiu deixando a cueca pra secar. Atendeu uma ocorrência lá no plantão e quando voltou para buscar a peça íntima, constatou de própria vista que ela sumira.

Pois a madame, que nunca foi boba, exigiu a instauração de inquérito para averiguação. Ele tentou sair da saia justa, mas não teve jeito e instaurou. E todo mundo ficou ressabiado com aquilo, com aquela história de cueca. E todo mundo brincava com a história do furto da cueca do majura quando, um dia, aparece lá uma advogada, bela morena, perguntando pelo Doutor que não estava e que foi atendida pelo colega de Plantão.

Queria entregar um pacote e entregou. O colega do Doutor sentiu pelo tato que tinha nas mãos um tesouro: parecia ser uma cueca de seda. Perguntou de que cor era, e ela respondeu que era azul.

E ele então indiciou a namoradinha do Doutor.

 
 

fale com o autor