CRÔNICA NÚMERO 34
ou, ELA IA SE CASAR |
Osvaldo Pastorelli
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Ela ia se casar. Quem diria! A igreja não estava lotada quando ela entrou ao som da tradicional música que já se tornava chata. Até que ela estava bonita. Já viu noiva feia? Não tem, assim como também não tem criança feia. Não existe noiva feia, todas são bonitas. - O que? - Vou chamar a noiva pelo apelido quando eu for cumprimentá-la. - Ela vai te xingar, isso sim. - E daí. É apenas um apelido nada mais. - Ela não gosta. - Não sei porque. Um apelido para ser aceito é preciso que a pessoa ofendida venha rebater tal apelido, daí o apelido pega mesmo. É o caso que aconteceu com ela. Os meninos da quarta série, pois foi o último ano que estudei com ela, viviam azucrinando a coitada. Não podiam vê-la sossegada, lascavam o apelido. Ela xingava, esbravejava, é a mãe e por aí afora retrucando com palavrões. Várias vezes foi chamada à diretoria, ela e os meninos, mas não tinham jeito. Todos os dias era a mesma cena. Eu não entendia do porque ela ficar com raiva do apelido. Sinceramente não sabia também porque os meninos colocaram esse apelido nela. - Parabéns e felicidades, Raimunda. - disse ao cumprimentá-la. - Raimunda é a puta da ordinária da tua mãe. - ela me disse quase gritando e me beliscando. Quem estava por perto olharam com espanto sem entender nada. - Malcriada. - Bem feito. Te avisei. - Mas porque... - Não se faça de idiota. Vai me dizer que não sabe porque... - Não sei mesmo, é apenas um apelido. - Ah! Você é um idiota mesmo. Então não sabe o que quer dizer Raimunda? - Não. - Raimunda feia de cara e boa de bunda. - É isso? - É isso, sim seu idiota. Caí na gargalhada. Então era por isso que ela brigava com os meninos! Comecei a rir, não por descoberto o significado do apelido, mas por só agora ter entendido o apelido. Tive um ataque de riso, de riso não de gargalhada que não conseguia parar, e acho que a noiva contou para o noivo, pois vi ela apontando para mim. Fui gentilmente convidado pelo noivo a me retirar da festa. |