FOTOS DA VIDA
Luciene Lima
 
 

Aqui, Ubaldo.

Cabelos pretos, brilhantes, o sorriso sempre radiante, porte garboso.

Nesta, Prieto. Elegante como sempre foi.

Aqui? Ermínia. Vê o laço no cabelo? Sempre se preocupou com os adereços. Um riso aberto. De dar inveja às moças de Muritiba.

Menos em Marialva. Sim, essa aqui do lado. Prima de Ermínia e de Carlota.

Aqui, as duas juntas. Olhe como devoram o bolo com os olhos.

Aqui, estavam cantando uma musica antiga, já àquela época.

Gustavo e Sônia dançando. E nessa outra, vô Dito. Olha esse terno. E essas botinas? Vó Solange sempre implicou com essas botinas. De nada adiantava.

Nessa? Parece Solon. Pode ser. Olhos claros, profundos. Lábios rosados. Uma postura inclinada, carinhosa. Olhe suas mãos. A única foto que tenho dele. A única que guardei.

Essa parte do álbum, vazia. Eu a preencho como gostaria.

Veja como estou bonita! Vestida de branco. Aqui, o fotógrafo conseguiu sintetizar o momento que poderia ter dado inicio a essa vida fugidia.

Solon entrando na igreja.

As alianças. O padre João. O sim. O beijo.

Aqui, já na recepção. O brinde com as taças dos noivos. O bolo. Os presentes. Vê como estamos bonitos dançando?

Aqui, já estamos saindo do salão de festas.

Esses são os filhos.

E essa é do aniversário de minha sogra. Essa torta de morangos, eu mesma fiz.

Essas flores, demos para os pais de Solon no dia em que eles foram para Torres ver os cantores do Sofejo.

Minha noite de autógrafos. Que roupa mais antiquada. Estava frio naquela noite. As mãos de Solon nas minhas. Não tiramos foto do presente que ele me deu. Faz tanto tempo já.

Ah, as bicicletas no quintal. A gangorra onde as crianças costumavam brincar.

Nessa, Solon tomando café.

Essa é do dia de aniversário de casamento. Dezessete anos.

Solon num dos aviões.

Esse retrato aqui é de quando fomos visitar meus pais.

E essa é quase inesquecível, todos reunidos num dos almoços de família.

Nossa, essa aqui nem eu me lembrava mais. São das férias em Porto Alegre. Vê como meus cabelos estão brancos?

Ah, o uniforme de Solon.

Olhe essa, um dos filhos chorando.

Aqui, todos rindo. Nesse dia, tínhamos ido almoçar no Peppo.

O beijo de Solon.

Quanta dificuldade para chegarmos até aqui. Mas tudo deu certo, afinal.

Essas páginas em branco. Novamente elas.

Ubaldo morreu de câncer, quando tinha cinquenta e seis anos. Até hoje temos saudades. Tão bonito, nosso Ubaldo.

Prieto fugiu com Ermínia. Amor antigo. Já estão bem velhinhos. E felizes ainda.

Marialva mandou uma foto, outro dia. Mudou-se de Muritiba. Foi viver em Salvador. Casou-se com Osvaldo. Bom moço, trabalhador, cordato. Têm três filhos. Faz tempo que não nos vemos.

Carlota escreve de vez em quando. Usa a Internet agora. Diz que tem preguiça de escrever cartas. Está mais gordinha. Mas continua belíssima.

Não sei mais nada sobre o primo Gustavo.

Vô Dito faleceu uns oito anos depois da foto com as amadas botinas. Vó Solange, uns quatro anos depois.

Sônia...há uma foto recente dela em algum lugar, preciso encontrar.

Essas outras fotos são de outros membros da família.

E da cidade. Das casas. Das praças. Das feiras. Dos rios. Do céu. De espaços vazios.

Solon se foi. Casou-se com Albertina. Parece que teve filhos. Somente disso eu soube. O nome dela e sobre a vinda dos filhos.

Não há fotos minhas. Rasguei-as quando soube que não mais teria fotos de nós dois.

 
 

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