VIRA-LATA
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Claudio Alecrim
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Meu olhar atravessou a turba dissonante como uma bala até chegar à bela mulher que, debruçada no balcão do bar, fazia desenhos de fumaça com o cigarro. Havia garçons, loucos, mulheres cheirando a sexo, perfumes baratos, copos com bebidas coloridas em contraponto à música suave esquecida nos cantos do grande salão extraído de algum livro de Balzac. Podia ler cada mobiliário com floreios barrocos, grandes lustres despencando do teto e uma escada que levava a galeria, onde circulavam pessoas apressadas desgarrando-se do exército onde me encontrava lutando por um copo de uísque. Fora convidado para uma noite de autógrafos e ainda não encontrara o escritor e tão pouco o livro de que mal lembrava o título. Nesse vandeville, opereta, a ordinária mulher de seios nus, pela suave transparência do decote, continuou a me convidar silenciosamente, cercada de homens picarescos, soprando fumaças em suas próprias caras. Aproximei-me da caça pelo faro, pronto para o bote. Uma leve embriaguez emprestava-lhe um ar superior e chiste, empinando o nariz em tom de deboche. - Seu nome? - Perguntei. - Não digo meu nome a estranhos... Tratava-me como um cão de estimação pronta para me por no colo e beijar o meu focinho. - Melhor assim. Inventarei um nome para mim... - Posso dar uma sugestão? - Claro. - Eliot! - Uma homenagem ao poeta? - Não. Acho idiota e interessante. - O que posso fazer mais para agradá-la? - Leve-me ao banheiro...Mal posso caminhar. Segurei seu braço frio como um mármore, enquanto divertia-se a minhas custas. - Fala sério? - Duvida de mim, Eliot? Subimos demoradamente a escada e levamos algum tempo até achar o banheiro. Abri a porta e prometi que a guardaria como um cão obediente. - Não vai entrar também? - Devo? - Não falei que é um bobalhão? Precisa de outro convite? Tranquei a porta enquanto ela se olhava no espelho fazendo sinais como se interpretasse um teatro tosco e absurdo. - Eliot, venha aqui... Segurou minha mão e a fez deslizar suavemente sobre seu púbis. Senti o frágil corpo tremer encostado ao meu. Intensifiquei as carícias e logo levantei uma de suas pernas para penetrar devagar. Quase desfalecida, mordia a boca borrada pelo próprio batom. Beijei seu corpo até chegar aos pequenos seios intumescidos. Sentia meu gozo iminente. Deixei que o líquido quente e abundante inundasse a tudo até que nossos corpos desabassem sobre a bancada. Permanecemos ofegantes e mudos por alguns minutos, nos tocando, ajeitando com cuidado um detalhe qualquer. Afastei-me e arrumei as calças. Ela pegou outro cigarro e o acendeu com as mãos trêmulas. - Eliot, o que faz no banheiro das damas? - Sou seu cachorro. Preciso passear agora... - Esqueci! - Riu. Deixamos o banheiro sob olhares estupefatos de um pequeno grupo aglomerado junto à porta. Nunca soube o nome dela. Também não encontrei o escritor e jamais soube qual o livro que escrevera. Mas para que um cachorro precisa saber disso? |