DELÍRIOS
|
Ana Terra
|
Já
estou perdendo a noção do perigo das palavras soltas e do
pensamento atordoado. Quando estou no limite, penso rápido e minha
lingua não me acompanha. Saio por aí soltando todas as minhas
insanidades. As idéias e reflexões movem-se em sentido giratório. Tudo vira, revira e voa. Rodopio
no ar. Meus pés sentem a maciez das nuvens, a textura de um tapete
verde de musgos. Estou pronta para voltar ao meu estado de lagarta. Que um dia rasteja e em outros voa. Minhas asas estão presas no casulo, pendurados numa árvore. Sinto que esta prisão durará apenas alguns instantes. Logo terei novamente minhas asas vermelhas e voarei livre para morrer e renascer nas minhas loucuras. Assim é meu movimento de vida. Minha busca. Um labiritinto com entrada e saídas demarcadas. O grande caminho sem portas. Apenas com batentes apontando invisíveis limites. Sempre entro como água e saio como labaredas queimando almas. Venho de terras perdidas, resgastando espíritos e transmutando sentimentos. Perdida e acertadamente. Minha ultima passagem pelo labirinto foi dolorosa. Parece que agora estou na rota certa como um vôo rasteiro no abismo, onde me jogo e depois levanto vôo. Preciso
deste movimento todo para exercitar minha mente pensante, onde só
habitam devaneios e insanidades. Que caminham como rodas de carroça
buscando estradas, córregos de água cristalina e sombra
para o descanso. Talvez
eu seja a grande quimera de uma alma perdida. Aquela que deseja ter seus
pulsos cortados, sentir o sangue escorrer e a vida brotar dos delírios. Um pacto de sangue. Um pacto de fogo e vida. Enquanto isso, contorço-me dentro do casulo. Nenhuma pedra é tão dura, assim como nuvem alguma é imutável. |