CONVERSA
COM O FUTURO DEFUNTO
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Álvaro
Brandão
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Ontem comecei a matar-te, meu amor. Tu sabes porquê. Eu sei que tu sabes. Só não sabes que eu seria capaz de te matar. E muito menos deste modo, tão lentamente. Mas é melhor assim. Tu nunca irias entender. Nunca entendeste o meu altruísmo. Sempre confundiste as minhas atitudes com comodismo e egoísmo. Na realidade tudo fiz para te convencer do contrário. Tudo. Cheguei a consultar um psiquiatra. Que tolice! Mas agora descansa. Amarei o teu cadáver de igual forma. E o teu pó misturar-se-á um dia com o meu. Descansa, come descansado. |