GOSTO DE SAUDADE
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Maria Belli
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E então, sem me dar conta, me pego pensando. Passado tão presente que nem parece que passou. Passou. Mas, o que passou mesmo? Passou o tempo....e o tempo passou. Poderíamos ter vivido grandes momentos. O filme que não vimos, o livro que não lemos, o beijo que não demos. Aquela viagem tão sonhada que não passou de um sonho. Os planos que fizemos que não concretizamos. O choro que não choramos, o riso que não rimos. Aquele jantar especial que não provamos. Aquela música que não dançamos. O pôr-do-sol que não vimos juntos. O passeio que não passeamos. O amor que não amamos. Os filhos que não tivemos. E tudo aquilo que não dissemos. E então vem a tal saudade, que só existe na nossa língua, mas que fixa moradia em outros órgãos. A saudade do que não se viveu. A saudade do que não aconteceu. A saudade que nos acompanha onde quer que estejamos. Mas que saudade é essa, afinal, se nem sabemos que gosto tem tudo aquilo que nem tivemos coragem de experimentar? É o gosto estranho da saudade. É o desgosto com gosto de saudade. |