DA MARAVILHA DA VIDA
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Luciana Pareja Norbiato
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Vocês vieram até mim e eu não precisei pensar em como reagir; as formas curiosas da vida. Tanto transbordar, calor de mim... Vocês me vieram como se eu estivesse esperando por isso, e somente por isso, a vida inteira. E foi bom. E sorvi de um só gole. E amei ambos, e amei mais a vida por esses presentes efêmeros, intensos. E deixei que a delícia da memória ficasse e vocês me escapassem de por entre os dedos, aqueles a quem nunca tive e sempre terei em mim, em meu corpo animal, certo da certeza das sensações e da vivência, que o resto são futilidades. Você me veio primeiro, nos amamos como em um casamento, uma entrega de dias completos um dentro do outro, você dentro de mim. Gozo... Simplicidade dos momentos em que prescindimos de palavras para dizermos o que queríamos, e era só o estarmos juntos. Estivemos, foi tudo. Eu pensei em querer mais, você acenou com uma luz, mas falsamente. Era só a minha dor ancestral gritando a vontade de permanecer cálida, ninada. Era só sua tentativa de manter a cadeia de platonismo a que você se entregou. Sempre terei Casablanca, no entanto. Você, não sei. Nem é necessário. Sei o que foi em mim, lindo, e isso basta. Antes que eu pudesse querer demais a quem não me pertencia, você, o outro você, me surgiu poderoso vindo da guerra finda, do outro lado do mundo, como um relâmpago que acontece instantâneo, vai embora sem chance de volta. Você, que tem uma vida-estrutura, família, filhos, você me amou como carne, como ser vivente, você me quis ardentemente e me teve inteira, ardendo por nós. Você me deu o seu mundo como um presente precioso, você fugiu quando sentiu que era tarde e já estávamos encaixados um no outro de forma perene, sem chances de esquecimento físico. Você temeu e fugiu, mas foi sublime. E, generoso, se pôs aos meus pés. Você me tocou direto na ferida tão delicadamente que quase me curou. Você me amou o quanto foi possível e me fez querida, você me tratou como uma rainha. Você mora em mim, e eu em você. E, terminadas minhas aventuras em um espaço de tempo tão curto, perdi supostas estabilidades e pequenezas da vida cotidiana, mas me reencontrei, menos ferida que antes, mais doce, mais tranqüila, na sabedoria de não querer das coisas além do que elas podem ser. Nunca fui tão feliz como agora e como serei na próxima hora, porque sei que vivi e que não me privo da vida. |