SAUDADES DE SINGAPURA?
Leila Silva
 
 

Acho que ninguém poderia dizer que sente realmente saudades de Singapura. Não é, por assim dizer, aquele lugar que deixa as pessoas nostálgicas e que as leva a correr à agência de viagens mais próxima e preparar a viagem. É um lugar artificial, um oriente meio falso e um ocidente mais falso ainda, já que ocidente nunca será apesar dos esforços de alguns.

O inusitado de Singapura começa pelo símbolo, uma coisa chamada Merlion, o nome vem de mermaid e lion – sereia e leão em inglês. A parte de cima é o leão, representando a força, a parte debaixo é um rabo de sereia. O caso do rabo nunca ficou muito claro para mim. Aparentemente tem algo a ver com o fato de Singapura ser uma ilha. Um leão com rabo de sereia! Estranho símbolo. Não conseguia ver os dois como uma combinação possível. Imagine-se um leão de cara brava, urrando quase, daí você olha para baixo e dá de cara com um rabo de sereia. Digo ‘rabo de sereia’ porque me disseram que é assim, poderia ser igualmente um ‘fishlion’, metade leão, metade peixe. Há ainda outra explicação para o uso do leão como símbolo do lugar, Singapura significa ‘cidade do leão’ e deve esse nome à miopia de um princípe Sumatra que jurava ter visto um leão na ilha. Ninguém além do princípe viu este animal ali em toda a história de Singapura mas o nome ficou. O antigo nome da ilha era Temasek – cidade do mar.

Se ainda entendo o que seja saudade, não posso dizer que me sinto assim com relação a Singapura, guardo em mim uma lembrança /boa dos passeios com Misako, minha doce amiga japonesa, de caminhar devagar com ela pelo jardim botânico, escutar as histórias da sua família. Guardo ainda aquele sentimento de descoberta, do primeiro olhar. Rio, hoje, da forma ingênua e irritante com que os chineses te cobrem de perguntas: Quantos filhos tem? Porque não tem? Lembro-me dos passeios de bicicleta perto do canal, de quase cair ao tentar pedalar observando as casas e o velho chinês de cabelos longos e brancos, atados no alto da cabeça.

São muitas as lembranças, algumas para sempre congeladas em fotos que não dizem tudo, mas complementam. Quanto às saudades…

 
 

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