O MEU CORAÇÃO É TEU
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Thaty Marcondes
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"O
meu coração ateu quase acreditou Sueli Costa - O meu coração ateu Celso tinha um coração ateu. Diferentemente de Rodolfo, que era frio. Tanta cacetada, tanta paulada da vida que... Puxa! Que merda! Não foi brincadeira tudo que passaram até se encontrarem numa esquina qualquer do tempo, perto de uma esquina de rua com rua, ou de rua com avenida, ou de uma praça dividida, enfim, não uma esquina literalmente falando, mas literariamente descrita, pois que era o cruzamento de vida com vida. E nessa esquina seus olhos se cruzaram, um frio subiu na barriga até a garganta ressequida. Não emitiram som. Apenas olhares. Enquanto aguardavam o SIGA em verde no semáforo, continuaram se olhando. Aqueles poucos minutos foram eternos. Os ponteiros quebrados do tempo perderam completamente o significado. Rodolfo era mais velho e, talvez por isso, mais descolado, mais desinibido. Resolveu seguir Celso. Aqueles olhos azuis não lhe escapariam, ao menos, de uma boa conversa durante o almoço. Não, não programaria nada. Queria que tudo acontecesse de forma natural, leve, solta, sem compromisso, sem amanhã você me liga. Era mais adepto do até qualquer dia, quando uma nova esquina nos remeta a um novo SIGA. Celso entrou no museu. No subsolo havia um restaurante. Rodolfo torcendo pra que ele seguisse pra lá. Passou por ele, quase rente, quase encostando, quase pele com pele. Provou no aura com aura, cheiro com cheiro, e novamente no olho no olho. Seguiu em frente rumo ao elevador e apontou pra baixo para o ascensorista, olhando fixo nos olhos de Celso que, parado, olhava-o no saguão vazio, em frente ao elevador. Celso desceu correndo as escadas, a fim de não perder os rumos daquele anjo lhe fornecendo sinais que - ele bem sabia - eram nitidamente a ele dirigidos. Rodolfo desceu do elevador e entrou no restaurante, tipo bandejão, cantina. Celso ficou à espreita, observando, encantado, aquele deus grego de porte impecável, elegante. Será que tinha entendido direito? Tímido, inseguro, dirigiu-se ao restaurante, fez um prato de saladas, pegou um suco e sentou-se na mesa em frente, sem erguer os olhos. Não tinha coragem de fitá-lo, apesar de sentir-se observado o tempo todo. Rodolfo levantou, desfez-se da bandeja e pegou um café. Dirigiu-se à mesa de Celso. Arriscou. Não falaram. Ficaram se olhando, deram-se as mãos. Celso esqueceu a bandeja, o suco, as mágoas, o medo e aquele coração descrente depositados sobre a mesa. Rodolfo largou o café, as saudades, o coração endurecido e frio na lixeira da cantina. De mãos dadas, já nem sabiam o que havia ao redor, onde estavam, como haviam chegado lá. Seguiram por alamedas floridas, por vielas escondidas, deixaram portas escancaradas. Enfim, tinham um motivo pra sorrir, pra viver, pra fazer correr novamente o sangue pelas paredes de suas almas sensíveis. O tempo foi passando. Um ano, dois anos. Celso cada vez mais carinhoso, mais dedicado. Vivia em função de Rodolfo. Este, por sua vez, voltara a ser como antes: coração duro, teimosia em temer o amor sincero, falta de coragem de se entregar de corpo e alma. Às vezes passava dias sem olhar para Celso. Arrumava casos esporádicos e Celso, sempre resignado, aceitava, achando que, com o tempo, as coisas iam melhorar. Rodolfo alegou uma viagem de negócios, no final de semana prolongado. Dois meses haviam se passado. Rodolfo não voltou. Celso, no auge do desespero, após mergulhar na segunda garrafa de vinho, mergulhou do 10º andar para o asfalto. Rodolfo recupera-se bem do transplante. Bate, agora, dentro dele, um coração gentil, esperançoso. Nunca mais teve ninguém, pois se sente completo com o coração de Celso batendo em seu peito. |