MEMÓRIAS
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Tatiana Alves
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O avô fora um homem austero. Criado em uma pequena aldeia portuguesa pelo pai após a morte precoce da mãe, faltaram-lhe o aconchego e a doçura que somente um colo de mãe pode dar. A
menina sabia-se amada, ainda que ele fosse muito rude para demonstrá-lo
de forma explícita. Marcado por uma aura de severidade, seu olhar
endurecera-se com o passar do tempo. Ela temia-o, encolhendo-se ao levantar
de sua mão. A espontaneidade e os gracejos da infância eram-lhe
proibidos, prenúncios da aridez do mundo. Passava os dias mergulhada
nos livros, singelos e infantis, comovendo-se ao perceber que um dia não
mais se interessaria por eles. Numa pré-nostalgia, sentia saudades
daquilo que ainda possuía, constatando a efemeridade de tudo. Nessas
horas, presente e futuro mesclavam-se, e ficava difícil precisar
a idade da menina. Após aquele curto diálogo, que não durou mais do que um minuto, a formalidade estabeleceu-se novamente. Mas ela jamais se esqueceria daquela tarde chuvosa em que haviam ignorado a distância e, juntos, chegado às terras d'além-mar. |