STAR DUST
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Leila de Barros
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Acordei com a sensação de ter comido limalha de aço. Olhei para mim e vi o quanto estava longe. No alto de um trapézio, com minha roupa de malabarista, minha musculatura tensa e a alma por um fio. Os exercícios diários estavam exaurindo minhas forças. Ensaio e mais ensaio. A alma delira e anseia, enquanto o corpo transpira e pede um espelho d'água. Sinto-me como se estivesse presa na ponta de uma estrela. Não sinto medo de cair ou algo semelhante. A sensação é de que esse corpo estelar e eu somos feitos da mesma matéria argenta e lúdica. Um pó brilhante e selvagem, livre para ir a toda à parte. Uma liberdade capturada apenas pela cadeia do tempo. Tenho me alimentado da esperança rota em um salto tríplice. Embaixo só a rede de proteção, acima uma abóbada de vidro chamando para o azul robusto. Desejei virar tatuagem para poder estampar na areia brilhante, minha nudez inocente, minha alma quase nua e bailarina. Quis dançar, mas qualquer movimento em falso, cairia do trapézio. Não queria descer, queria ir além, vencer o medo do salto sem rede, arriscar, morder a isca. Poder voar segurando apenas os fios da balança. Sinto que menti. Aquele rubor na face me faz perceber que tenho mentido o tempo todo. Roubo a cena sempre que posso. Tentam roubar-me a alma às vezes, mas tenho-a guardada como rastro estelar em carta selada. Ela clama e arde, sempre pulsante. Pulando de teto em teto, como os felinos de madrugada. Tenho ensaiado como nas olimpíadas. As mãos doem com o esforço diário. Busco sempre a força do pulso parceiro, que me fará conseguir o salto tríplice, sem a rede de proteção. Meu coração fica atento, solícito me pede calma, renúncia e solfejos alegres. Para tais práticas siderúrgicas, pensei em endurecê-lo, pois talvez ele não deseje que eu prossiga com o risco. Estou assim quebrada em mil partículas, assimilando o vento noturno e calmante que sopra minhas limalhas para a aurora boreal. Manter a ternura em meu currículo tem sido um longo e extenuante cabo de guerra. Deve haver um modo de manter em equilíbrio, essas metáforas ardentes em mim. Um coração forte e um peito robusto que abriguem um afeto moroso e vívido, como um riacho que desce forte do cimo da montanha, para virar fonte de energia, mas que reinicia seu ciclo viajando em águas doces. Prendo-me à força do aço do trapézio, mas meus movimentos são mais leves e lentos. As limalhas voam com meus sonhos, ando preferindo o pó das estrelas... |