BIG BANG
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Lady Lazarus
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Parecia impossível pra ela livrar-se daquele amargo gosto provocado por vãs insistências. O pobre telefone não tocava, calava. Não respondia aos seus irrefletidos apelos. Só uma frase já lhe bastava... Mas nada. Nenhum movimento ou qualquer gesto denunciador. Entre eles as coisas permaneceram intocadas, nenhuma palavra foi dita ou escrita desde o último dia em que se viram. Dava-se, assim, o previsível hiato. Ela
já era consciente que isso um dia lhe chegaria. Não sabia
quando ou como seria. Só sabia que em algum momento o cisma se
realizaria, como numa profecia. As imagens que habitavam o alto de suas abstrações começaram a fazer seu caminho de volta. Ascensões, ideações, metáforas, caíram por terra. Descerem ao grosseiro nível das relações chinfrins, tão iguais... O extra-ordinário torna-se ordinário. A estrela sai da órbita. Entidades celestes tornam-se meros joguetes. Deuses, totens, musas, personagens de uma história comum, perderam suas máscaras, entraram em descompasso, esqueceram suas deixas. Tudo isso era o que relampejava em sua mente débil. Enfraquecida por torpes visões, via desmanchar-se, instantaneamente, o castelo de sonhos que para si construiu. Voltava à sua morada solitária, ao B-612, donde nunca deveria ter saído. Ao mesmo tempo, tentava explicar o caso por si mesma. Arranjava situações, possíveis imprevistos causados por acontecimentos involuntários. Talvez... Ficava nesse jogo de idas e vindas, imaginando-se vítima de uma refinada alma profana e esperando o novo big bang que os fariam unir-se novamente. |